1 de julho de 2004

Encontro impossível

- Ih, que surpresa!!! E aí cara, como é que você tá?
- Tô bem, tô bem... e você? Faz quanto tempo? 10 anos? Quase não te reconheci!!!
- Ah, mais pra 15! E a última vez que a gente falou foi por telefone, você até desligou meio puto comigo...
- É? Nem lembro mais o que era...
- Também não importa! Porra, é muito bom ver você cara. Conta aí, e a vida? O que cê tá fazendo? Casou? Filhos?
- Cara, casei, tenho 2 filhos - uma menina, Raquel...
- Haha... Eu sei porque esse nome!
- É, mas não vale contar pra minha mulher!!! E um menino, Aluísio.
- Nome do seu pai né?
- É. Ele é o caçula, tem só 3 anos... Meu pai não chegou a conhecer...
- Ah...
- Mas e você?
- Eu tô de férias... Nós mudamos pros EUA em 2000 e continuamos por lá. Minha filha - filha única, Júlia - é mais americana que brasileira, mas a gente mantém ela em contato com as coisas do Brasil o máximo possível, e... Peraí... Tá com tempo? Vamos tomar um chopp ali no boteco, a gente bate um papo e mata a saudade!
- Vamo lá! Eu ligo pra minha mulher do celular e aviso...
- Jóia, assim eu aproveito para pedir desculpas por aquele telefonema... Eu pago a primeira rodada!


E assim dois amigos se encontram depois de 15 anos e reconectam a amizade que foi posta em pausa sem nenhum esforço de ambas as partes.

Seria maravilhoso...

Mas nem todas as escolhas nos cabem. Algumas viradas da vida vem a contra-gosto, sem aviso e fogem ao controle de todos nós.

Esse amigo não casou, não teve filhos, e nunca vai encontrar comigo para um chopp. Pelo menos não nessa vida.

Faleceu num acidente de carro, soube sem muitos detalhes, há algum tempo.

O diálogo inventado é meu pedido de desculpas post-mortem e minha homenagem singela. Expressão da saudade de um amigo que se foi tão jovem. Meu último abraço...

A mensagem, se é que há uma, é de viver a vida da melhor forma possível e viver o agora.

Não quero dizer que a vida tenha de ser vivida de forma extrema, de forma tola ou em velocidade; mas tem de ser vivida de forma intensa.

Não deixe para falar depois, para as pessoas que lhe são caras, o que pode ser dito agora. Não deixe de estender a mão a uma pessoa que precise. Não deixe de correr os riscos que podem te alçar a novos horizontes. Seja honesto, sincero, claro, direto. Viva muito e viva bem.

Porque a vida é curta e raras são as segundas chances.

E arrependimento é um peso que não alivia.

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