28 de setembro de 2008

Uma pergunta!

Não seria a hora dos bancos brasileiros, que estão constantemente anunciando lucros recordes, estarem pensando em comprar um dos inúmeros bancos internacionais que andam mal das pernas?

Tortura assumida em rede nacional e mundial

No debate (transcrição aqui) entre McCain e Obama realizado na sexta passada, duas coisas me chamaram a atenção:

  • Obama, quando era possível, concordava com seu oponente ("John is right.")
  • McCain, agressivo, demonstrava impaciência com as idéias do oponente
Obama errou ao admitir concordar com McCain. Num país que só vê preto e branco e que reage de acordo com essas interpretações rasteiras, tentar achar o ponto em comum num debate só pode ter um resultado negativo. E logo após o fim do debate a imprensa já discutia como Obama concedia que seu oponente estava certo e como isso demonstrava a maior experiência de McCain.

McCain, perdendo nas pesquisas de opinião, fez o que era necessário - pintou o oponente como um radical de esquerda, inexperiênte e ingênuo. Mas, acho eu, exagerou. A idade não ajuda e a imagem que ficou foi de um velho zangado reclamando a toa. Passou uma impressão antipática e agressiva.

Não acho que ninguém tenha ganho o debate. Foi óbvio que Obama tinha um domínio maior sobre a situação econômica - principal preocupação dos americanos hoje - e que McCain tem mais experiência no terreno de relações exteriores. Mas o comportamento de ambos, acima descrito, não deve ter convencido nenhum independente a mudar seu voto. E numa corrida apertada dessas, isso é o que importa.

Mas o que eu quero discutir, de verdade, são duas frases vindas de McCain:
I have opposed the president on spending, on climate change, on torture of prisoner, on - on Guantanamo Bay.
e
And we've got to -- to make sure that we have people who are trained interrogators so that we don't ever torture a prisoner ever again.
A tradução é simples: "Eu me opus ao presidente em gastos, mudança climática, e na tortura de prisioneiros, em - em Guantanamo Bay." e "E nós temos de -- temos de ter certeza que teremos pessoas que sejam interrogadores treinados para que nós nunca mais torturemos um prisioneiro novamente".

Isso foi a mais clara admissão de que os EUA torturaram prisioneiros que já partiu de qualquer membro do governo. Em rede nacional. Transmitido para vários países do mundo.

Não que seja surpresa pra ninguém que tortura tenha sido utilizada - o assunto já deu muito pano pra manga no mundo inteiro...

Mas ver um senador da república, pontencial presidente do país, admitir o ocorrido - sob os auspícios do seu partido - deveria ser o tópico de manchetes no mundo inteiro. Deveriamos ver organizações de proteção a liberdade civil se manifestando. E no mínimo uma moção de censura por parte de organismos internacionais.

Porquê o silêncio?

23 de setembro de 2008

Canon 50D ou Canon 5D Mark II?

A Canon, minha preferência atual por marca de câmeras SLR, lançou duas novas câmeras em sua linha: 50D e a 5D Mark II.

Descontando por um momento o fato de que eu não tenho bala pra comprar uma câmera nova agora, principalmente quando a 50D custa US$ 1400 e a 5D Mark II vai custar mais de US$2500 sem nenhuma lente, fico dividido quanto ao que comprar.

A 50D é a opção mais sensível no tocante a preço. E pro meu nível amador é mais do que suficiente pra que eu passe minha Canon 350D pra minha filha enquanto eu sigo com a câmera mais nova. Eu estaria praticamente dobrando a capacidade em megapixels, dobrando a minha capacidade ISO, e ganhando uma série de adicionais que podem ser úteis (live view, acredite ou não, as vezes faz falta quando você tem uma multidão à sua frente; e o sistema de limpeza do sensor seria um passo na direção certa).

Mas eu continuaria tendo o problema com as lentes wide angle. A 50D, como a minha 350D, tem o fator de cropping de 1.6x. Para quem está interessado em fotografia com lentes de telephoto é ótimo, mas pra mim que gosto de fotografia de paisagens e de viagens; não ajuda muito. A maior lente de wide angle da Canon é uma 14mm - que numa câmera com fator de cropping de 1.6x vira uma 22mm - não é ruim, mas as 14mm são caras... Eu preferia que a minha lente wide angle atual se mantivesse em 17mm-35mm ao invés de se tornar uma 27mm-56mm.

A 5D Mark II, por outro lado, é uma "full-frame" - ou seja nenhum cropping envolvido. Isso resolveria meu problema com as lentes wide angle. E eu teria mais capacidade em megapixels e ISO que na 50D. Mas as outras benesses da câmera me interessam muito pouco. Vídeo em especial não me diz nada, HD ou não. Nunca curti vídeo. E a 5D Mark II é mais lenta em burst mode (fotos em seqüência) que a 50D! Pra quem tem filhos e tenta tirar fotos de atividades esportivas, o burst mode pode ser muito útil.

Neste momento, a 50D me parece uma escolha mais adequada para mim. Eu não ganho dinheiro com fotografia e fica difícil justificar US$1000 a mais por capacidade que, sinceramente, não sei se vou usar.

A full frame vai ficando pra mais tarde.

21 de setembro de 2008

Algemar ou não algemar?

Recentemente uma decisão do supremo tribunal de restringir o uso de algemas me causou espanto.

Algemas são um procedimento de proteção para os policiais, para o acusado (que algemado fica livre da possibilidade de ser acusado de ter agredido o policial), e para a sociedade.

O drama no Brasil parece ser entender a algema como uma punição a priori, que denigre e rebaixa o suspeito. Não é incomum ouvir alguém dizer "algemaram o cara como se ele fosse um assassino!". Não, a interpretação está as avessas: o assassino foi algemado como todo e qualquer suspeito. Suspeitos são algemados (ou são em sociedades normais) não importa o crime.

Mas de acordo com o supremo:

o uso de algemas viola o princípio constitucional da dignidade humana
o que é totalmente incompreensível para mim. Dignidade é um conceito absolutamente subjetivo. O que é indigno para mim pode não ser para você. Quando o maior tribunal do país determina que uma medida de segurança é indigna, fazer o quê? Ser preso em prisões super-lotadas, pelo jeito, não é indigno... Ou talvez dignidade só importe até ser julgado culpado.

Um suspeito não algemado pode alcançar um telefone celular escondido (ou fornecido por algum elemento da força policial previamente subornado) e avisar comparsas que foi preso ou que a polícia vem vindo. Ou pode não resistir a voz de prisão oferecida por múltiplos policiais, mas imediatamente mudar de opinião uma vez que esteja só com um policial apenas - ninguém sabe o que se passa na cabeça de outra pessoa. Isso são só duas possibilidades que me passam pela cabeça. Há um motivo para os manuais policiais do mundo inteiro recomendarem algemas.

O interessante, na minha opinião, e que se criou duas castas de suspeitos no Brasil: os suspeitos dignos de respeito e de observância da "dignidade humana"; e os outros, de classe inferior e menos merecedores de um tratamento "digno".

Como tudo mais no Brasil, redunda-se em tratamento especial para uns poucos privilegiados.

Suspeito deveria ser suspeito e ponto final. A qualidade do crime não interessa nem um pouco.

Eu algemaria todo mundo.

E na TV, que tem visto?

Sou um cara bem previsível no meu gosto por TV. Gosto de ficção científica, policiais, um pouco de fantasia, séries sobre viagens e ciências. Não sou fã dos inúmeros "reality shows", não acompanho esportes, e tele-jornais me deprimem - prefiro ler minhas notícias.

Alguns programas, ultimamente, fugiram das categorias normais que eu assisto. E o que eles tem em comum são boas atuações e personagens interessantes.

House é um. Gregory House tem de ser o sujeito mais arrogante e insuportável que já se viu na televisão, mas suas relações com outros médicos e pacientes são interessantíssimas de assistir. Lupus.

Outra série que foge do normal do meu interesse é Eli Stone. É, em teoria, um drama sobre advogados. Mas é tão mais do que isso, e tão engraçado. Eli começa a ter visões e descobre ter um aneurisma cerebral. As visões, entretanto, parecem se revelar mensagens de Deus sobre quem ele deve ajudar. Os atores são ótimos, as tramas interessantes, e as visões impagáveis.

Há também séries recentes que começaram a despertar meu interesse.

Burn Notice está começando a ficar repetitivo. Mudam os "clientes" e as "metas", mas a história basicamente é a mesma a cada episódio. As personagens, principalmente as de apoio, são interessantes, mas a não ser que eles mudem a fórmula fica difícil.

Reaper tinha o mesmo problema da fórmula repetitiva, mas na última temporada eles introduziram vários novos elementos e tramas que podem tornar o programa viável pra mim de novo. Sock é hilário e por si só vale o programa.

Sou fã dos programas da BBC. Um novo que está sendo interessante de acompanhar é Primeval. Anomalias temporais abrem passagens entre passado, presente e futuro, e um time de cientistas lidera uma equipe governamental britânica na luta contra as criaturas que colocam a nossa realidade em risco. Tinha tudo pra ser uma série repetitiva como Reaper e Burn Notice, mas eles injeteram mudanças instigantes num capítulo recente. Vou continuar acompanhando pra ver no que dá...

Como assistir tudo isso? O milagre do DVR! Eu nem sei que horário ou que dia das semanas os programas passam. Só digo pro meu DVR o que gravar e ele toma conta do resto. Essa semana vi o capítulo de estréia da nova temporada de Smallville; nem sabia que estava pra começar uma temporada nova. :-)

19 de setembro de 2008

Liberdade...

É impressionante como as pessoas - até as pessoas inteligentes, bem formadas, cultas - tem uma certa confusão mental quando se trata de liberdade.

Durante a estréia de Katie Holmes na peça "All my sons", houveram protestos fora do teatro contra a Cientologia - que clama ser uma religião, mas que é chamada por detratores de culto.

Muita gente, ao saber dos protestos, reclamou: "Ué, e a liberdade de religião?"

Ninguém proibiu ninguém de seguir a Cientologia. Ninguém puniu ninguém por seguir a Cientologia. A liberdade de religião nos EUA vai bem obrigado. E a de expressão também - os críticos puderam dar voz a sua insatisfação que determinadas pessoas seguem/são forçadas a seguir o que na opinião deles é um culto perigoso.

Ter liberdade não significa ser aceito pela sociedade. A única garantia que a liberdade provê é que os governos de sociedades livres vão respeitar os direitos individuais e coletivos. Nada mais.

Qualquer um é livre para não ser cristão nos EUA. Não quer dizer que os cristãos vão achar sua opção linda. Muitos irão achar que é uma pena que uma pessoa tão bacana quanto você vá parar no inferno.

Qualquer um é livre para viver sua orientação sexual nos EUA. Não quer dizer que você não vá ser alvo de discriminação ou olhares assustados se beijar seu parceiro(a) em praça pública.

Você é livre pra fazer o que quiser, mas terá de lidar com as conseqüências.

Liberdade é diferente de passe livre.

18 de setembro de 2008

A pior crise desde 1930

Hoje, na primeira página do Wall Street Journal, estava a manchete de que estamos vivendo a pior crise desde 1930. Achei este artigo via Yahoo!, provido pelo Wall Street Journal, que vale a pena ler.

Frases dignas de nota:

Esperanças restantes que o dano pudesse ser contido as poucas instituições financeiras que fizeram apostas ruins em hipotecas já evaporaram.

Expectativas para um fim rápido para a crise estão desaparecendo velozmente.

O artigo deixa claro que o drama atual pode ter começado com a crise imobiliária, mas que evoluiu para algo muito mais amplo. O problema era um sistema financeiro totalmente viciado e que, dadas as condições devidas, entrou em colapso.

Quem vai pagar a conta, de uma forma ou de outra, é o contribuinte americano.

Eu.

Isso sem contar com a temerária situação dos meus investimentos no fundo de aposentadoria. Ano passado ganhei 22%. Esse ano, até agora, perdi 26%. Ou seja - no meu caso se trata de uma depreciação de 4%! Imagine quem, como a maioria, ganhou só 10% em média no ano passado?

Que pena que eu não pensei em comprar Reais. Teria-os vendidos há uns bons 3 meses e feito uma graninha...

13 de setembro de 2008

Porque não tem mais gente pensando assim, não sei...

Editorial do New York Times.

Tradução livre e apressada:

A visão do mundo da Governadora Palin

Depois de ver Sarah Palin na televisão nos últimos dois dias, estamos querendo saber o que, nesta terra, John McCain estava pensando quando a selecionou.

Se ele pensou seriamente que esta governadora de primeiro mandato - com menos de dois anos no cargo - está qualificada para ser presidente, se necessário, no momento perigoso que vivemos, isso suscita profundas dúvidas sobre seu julgamento. Se a escolha foi, como se suspeita, uma opção táctica, foi irresponsável a ponto de ser chocante.

Foi ruim o suficiente que o desempenho da Sra. Palin na primeira entrevista televisiva que fez desde que ela aderiu à chapa republicana foi tão visivelmente ensaiada e desprovida de consciência.

Mas muito pior é a estratégia que os republicanos escolheram para a Sra. Palin a 'frontwoman': conquistar a Casa Branca não com base em idéias, mas denegrindo a experiência, capacidade de julgamento e qualificações.

A ideia de que os americanos querem líderes que não têm nenhuma dessas coisas - que são tão cegamente certos do que a Sra. Palin chama de "a missão" que eles nem sequer pausam para reflexão - revela um desprezo pelos eleitores e levanta questões assustadoras sobre a forma como o Sr.McCain e Sra.Palin planejam comandar este país.

Um dos muitos momentos bizarros, na entrevista da ABC News por Charles Gibson foi quando a Sra. Palin, governadora do Alasca, desculpou sua falta de experiência internacional dizendo que os americanos não querem "alguém com um currículo gordo que talvez mostre décadas e décadas de envolvimento com a máquina de Washington onde, sim, talvez tenha tido a oportunidade de reunir chefes de estado. "

Sabemos que a intenção era suscitar a todos a pensarem Joe Biden. Mas por certo soou como uma boa descrição do Sr. McCain. Aqueles décadas de experiência do Senador do Arizona foram o que conquistaram a admiração de pessoas em ambos os partidos. Foi por essa experiência que ele foi o nosso candidato preferido nas primárias dos Republicanos.

As entrevistas deixaram claro que os americanos devem se preocupar com o currículo magro da Sra. Palin's e com sua falta de experiência. Considerem sua confusão quando o Sr. Gibson perguntou sobre a "doutrina" Bush, e sua observação sobre ter um 'insight' sobre a Rússia porque ela pode vê-la a partir de seu estado.

Mas isso não é o que nós mais nos incomodou em suas observações - e, lembre-se, se se tratasse de roteiro ensaiado, isso significa apenas que elas refletem os pontos de vista do Sr. McCain muito mais de perto. Outrossim, foi o sentimento que exercer julgamento, ter conhecimento e experiência são desvantagens para um presidente em um mundo habitado por terroristas da Al-Qaeda, uma China ascendente, a epidemia de AIDS, da pobreza e da guerra fratricida, no mundo em desenvolvimento e da profunda angústia econômica em casa.

A Sra. Palin falou várias vezes sobre nunca piscar. Quando o Sr. McCain pediu a ela para ser sua vice-presidente? "Você tem que estar conectado de uma forma tão empenhada na missão", disse ela, que "não se pode piscar."

Luta contra o terrorismo? "Nós devemos fazer o que for necessário, e não podemos piscar, Charlie, ao tomar essas decisões difíceis de onder ir ou quem tomamos como alvo.".

Suas respostas sobre por que ela havia dito para sua congregação que a falha política do Presidente Bush no Iraque era o "plano de Deus" não fez nada para dissipar as nossas preocupações acerca da sua confusão entre fé e política. Sua alegação de que ela estava citando um comentário de Lincoln completamente alheio ao assunto foi absurdo.

Esta nação sofreu durante 8 anos de um presidente mal-preparado, obstinado e que não pisca. Um que não parou para pensar antes de deflagrar uma guerra desastrosa por opção no Iraque. Um que alegremente olhou para o outro lado enquanto o Taliban e a Al Qaeda se reagruparam no Afeganistão. Um que obstinadamente cortou impostos e minou todos os esforços de regulação, criando a profunda crise econômica atual.

Em um mundo perigoso, os Americanos precisam de um presidente que sabe que a força real requer preparações e raciocínio sério.

12 de setembro de 2008

Desmentindo as falácias dos brasileiros roxos (2)

Os frouxos correm...
Outra frase comum de ouvir, como expatriado que bota a boca no trombone, é algo nas linhas do acima.

Variações diversas: "Quem sai do Brasil é fracassado...", "Quem não tem coragem de lutar, sai.", etc. Mas o tema é o mesmo: sair do Brasil significa optar pelo caminho mais fácil ao invés de ficar e ajudar a corrigir o que precisa ser corrigido.

Como se a minha decisão de tentar a vida em outro país tivesse sido fácil, e o caminho pra chegar até onde eu cheguei não tivesse envolvido nenhum tipo de sacrifício. Foi assim: decidi sair e sai - nenhum entrave imigratório. Não houveram dificuldades de nenhuma espécie. Não há saudade da família, dos amigos, não há preconceito contra imigrantes, não há a longa curva de aprendizado, e não houveram dias de choro, de mágoa e de saudade.

A doutrina é: emigrantes são perdedores, fracassados ou frouxos.

O Brasil então é uma coleção de filhos, netos, bisnetos e tataranetos de perdedores, fracassados ou frouxos.

Correto?

Salvo os de etnia indígena, somos todos filhos dos perdedores dos outros países, não é isso?

Vencedores nascem, crescem e morrem nos seus países. A idéia é essa. Entendi bem?

Não importa se o emigrante ao chegar no país adotivo desenvolve uma carreira brilhante, não importa se eles são bem sucedidos quando no seu país de origem não conseguiam ser ou tinham sucesso limitado (e explorar o fato de que a mesma pessoa não conseguiu sucesso num país mas conseguiu no outro é um tabú a parte que jamais é explorado nem angaria frases de efeito), e muito menos o fato de eles terem de vencer adversidades com as quais quem ficou no Brasil não entende e nem sonha (eles lidam com outras adversidades, claro, mas quem sai do país viveu com as adversidades nacionais antes de sair).

Mas o que mata é o seguinte - essas pessoas continuam no Brasil, criticando quem saiu, e eu não vejo nenhuma delas (as com que tenho contato) fazendo NADA pra "corrigir o que precisa ser corrigido". Como essa "luta" seria deflagrada e qual seria o campo de batalha para corrigir o Brasil, eu nunca entendi.

Mas eu (e os milhares de outros expatriados) que aponto o que há de positivo aqui e que poderíamos adotar e que apresento pontos de vista novos baseado em uma experiência de vida com coisas que funcionam; sou frouxo...

Criticar o emigrante - principalmente o emigrante que é crítico do seu país de origem - é o esporte oficial dos nacionalistas roxos.

Desmentindo as falácias dos brasileiros roxos (1)

Pergunta pra um Inglês ou Americano se eles falam mal do país deles?
A primeira coisa que eu escuto ou leio quando alguém me ouve ou lê criticando o Brasil é algo como a pergunta acima.

A resposta é simples: claro que sim.

Nos carros nos EUA, muitos tem o adesivo "True Patriots question our lying government" (Patriotas de verdade questionam nosso governo mentiroso). Jornais e revistas publicam artigos TODOS OS DIAS criticando alguma faceta da sociedade americana. Blogs de americanos criticando os EUA existem aos milhares. Filmes e documentários. Michael Moore, alguém já ouviu falar?

O mesmo acontece com Ingleses, Japoneses, Italianos, Chineses (as escondidas para não serem presos e/ou mortos), Cuba (mas de longe, depois de escaparem do paraíso de Fidel Raul), e qualquer outro país que você se der ao trabalho de procurar.

Criticar seu país de nascimento, ou o país que você vive, não é sinal de que outros países necessariamente são melhores ou menos dignos de crítica. Eu, por exemplo, critico em igual proporção o Brasil e os EUA. São os dois países que eu conheço bem. As críticas são diferentes e o que motiva as críticas também. Mas as críticas existem.

Também não indica que eu prefira um país ao outro. Me é mais fácil conviver com os problemas e os revezes de onde moro, claro, senão não viveria aqui. Mas não tenho ojeriza ao Brasil e teria muita alegria em ver os problemas que mais me incomodam nele sendo adequadamente tratados.

O que me mata de rir é essas pessoas escavarem uma frase de efeito de um pensador qualquer como se a frase por si só provasse como eu sou um apátrida por me atrever a falar mal do Brasil. Porque as frases de efeito, normalmente, estão de uma forma ou de outra falando mal dos brasileiros ou do próprio Brasil! Exemplos: "Nova York e bom, mas uma merda. Rio e uma merda, mas bom." do Tom Jobim; ou "brasileiro é o narcisista às avessas" do Nelson Rodrigues; etc.

Porque o pensador que eles escolheram pode falar mal e eu não?

Criticar é saudável. Se não admitimos os problemas, se não discutimos os problemas, não há como encontrar soluções.

Misantropo...

Misantropo: Alguém que desgosta da humanidade e evita a sociedade.
Já me chamaram de misantropo - mais de uma vez e nem sempre usando a palavra correta. Mas eu nunca aceitei o título. Meu problema não é a humanidade. A humanidade - como espécie - me fascina pelo que fizemos e pelo que fazemos, pelo que conquistamos e pelo que temos o potencial de conquistar. A humanidade é pura contradição: motivo de orgulho, de vergonha, e principalmente de espanto.

Acho que - como espécie - nos somos criaturas interessantes. A nossa adaptabilidade. A nossa curiosidade. Se eu fosse um visitante de outra espécie inteligente (não que eu esteja dizendo que eles existam) acho que a raça humana me fascinaria (e ao escrever isso, me vem a imagem do Doctor Who dizendo 'Brilliant!').

O que eu abomino é o indivíduo da nossa espécie. E para isso, ao que parece, não existe uma palavra específica. Não consigo achar no dicionário uma palavra que signifique: "nada contra a humanidade, mas o ser humano é uma merda".

Claro que não todos. Existiram e existem indivíduos da nossa espécie que são impossíveis de se desgostar. Pessoas que colocam o próximo antes de si próprias, pessoas que colocam o coletivo antes do individual, pessoas que representam o que há de mais nobre da humanidade.

Mas, no geral, individualmente, o ser humano é um lixo. Me incluo nessa definição, apesar de querer acreditar que na maioria das circunstâncias eu me provaria melhor que muitos dos meus semelhantes de quem tanto desgosto. Eu, pelo menos, luto contra as falhas de caráter que todo ser humano tem e que me causam tanto incomodo.

Intolerância, preconceito, falta de visão, preguiça (de agir e de pensar), irresponsabilidade, inconseqüência, egoísmo, desonestidade, incapacidade de cogitar o ponto de vista do próximo... São só algumas das falhas mais aviltantes que indivíduos da nossa espécie - novamente, de forma geral - são incapazes de corrigir e perpetuam através da (des)educação de seus filhos e netos.

Mas são falhas, para mim, intoleráveis. Eu convivo com as pessoas que chafurdam nessas falhas da melhor maneira que posso, mas me incomodam profundamente. Existem dias que eu tenho vontade de sumir, me isolar como um misantropo, e esquecer essa parcela da espécie que se recusa a progredir, que se esconde do próprio potencial, e que parece viver sem entender o que está acontecendo com eles e com quem convivem. Entender de verdade.

O que me incomoda mais, sem dúvida, é a burrice - fruto da preguiça de pensar, da intolerância e da incapacidade de se colocar no lugar dos outros. É, com certeza, a característica mais irritante com que convivo no meu dia a dia.

Não, não estou dizendo que todos com quem convivo são burros. Longe disso. Já convivi com pessoas que certamente eram muito mais inteligentes do que eu. Várias. Mas eu não me comportava como se fosse uma dádiva divina a humanidade, ou insistia em manter posições que comprovadamente não faziam sentido. Mais ainda: se eu não sabia do que estava falando, calava a boca e ouvia.

Ouvir é um talento. Ponderar antes de responder é um talento. Mas calar a boca é uma arte. A maioria das pessoas não ouve, não pondera, mas faz questão de responder. Calar? Impossível.

A melhor forma de lidar com esses indivíduos, me parece se tornar evidente a cada dia, é simplesmente suspender toda e qualquer possibilidade de iteração. Quanto menos contato com a idiotice reinante, melhor.

Como conseguir esse afastamento e continuar produtivo? Sinceramente não sei. O que tem tido algum efeito pra mim é minimizar as interações e evitar toda e qualquer tipo de polêmica. E a arte de calar a boca tem sido minha aliada.

Mas, insisto, meu afastamento é dos indivíduos - ou melhor - das falhas dos indivíduos.

A humanidade, nossa história como espécie, nossa futuro possível e até o provável, continuam me fascinando.

11 de setembro de 2008

Educação primária nos EUA

Minha filha é minha ponte pra entender o sistema de educação americano.

Quando viemos pra cá ela tinha dois anos. Aos 5 começou na pré-escola em Wisconsin. Terminou a segunda série na Florida e hoje está na quinta série.

É interessante acompanhá-la e notar as diferenças entre o sistema de ensino que eu conheci no Brasil e o que ela vive hoje.

Leitura por exemplo. No início de cada trimestre as crianças fazem um exame computadorizado que define um nível mínimo e máximo de dificuldade que se adequa à criança e, numa conversa com os professores, definem uma meta de leitura. Cada livro disponível (são centenas na biblioteca da escola) tem uma gradação de dificuldade e um equivalente número de pontos possíveis. A criança termina de ler e faz um teste de compreensão, também computadorizado, e recebe os pontos equivalentes ao seu percentual de acertos. Então se o livro vale 10 pontos e ela acertou 80% das perguntas, são 8 pontos que contam para a meta de leitura. 10 pontos, por sinal, é um livro de boa dificuldade para uma criança de 10 anos. A meta da minha filha para este trimestre é 60 pontos. Ou seja: ela tem de ler pelo menos 6 livros de boa dificuldade num período de três meses - mas mais do que isso: ela tem de entender o que leu e desenvolver seu vocabulário através dessa leitura.

Não foi assim que eu aprendi a ler. Não tenho certeza, mas vou arriscar que não é assim que se ensina a ler nas escolas particulares do Brasil - que dirá nas escolas públicas.

Matemática também está sendo uma surpresa. Até a terceira série estávamos acompanhando-a no aprendizado do básico do básico. Como aprendemos no Brasil. Mas da quarta série em diante a coisa mudou: estão investindo em estratégias para tornar a matemática útil no dia a dia. Técnicas para calcular de cabeça usando uma estratégia complementar para adição e subtração (exemplo: 345 + 555, ensinam a criança a somar 55 ao primeiro termo e subtrair 55 do segundo. 400 + 500 = 900). Veja, ela estudou geometria - triângulos equiláteros, retângulos, etc - mas a ênfase é na matemática de compreensão. Frações sim, mas números com pontos decimais tem uma ênfase mais séria. Equações de primeiro grau sim, mas com a ênfase de resolver problemas e estimular o raciocínio matemático. O interesse parece ser que a base sólida esteja presente para o dia a dia e, mais tarde, quando necessário, será feito o investimento em matemática de nível mais alto.

Claro que existem falhas. Eu acho o ensino de geografia péssimo. Extremamente limitado aos EUA. Ciências ainda é cedo pra dizer... Mas me preocupa a possibilidade de falarem de criacionismo (ou, como chamam hoje em dia, 'Intelligent Design') ao invés (ou além) da teoria da evolução...

Na nossa casa acompanhamos de perto a educação dela - que eu considero obrigação de qualquer pai e mãe - e corrigimos, provemos mais informação ou orientamos que ela use raciocínio crítico antes de aceitar como verdade divina o que vê na escola. Cansamos de conversar sobre como a pergunta mais importante do mundo é "Porquê?".

A escola instrui. Os pais instruem e educam.

Isso devia ser universal.

Mas que as escolas no Brasil podiam aprender um pouco do que é positivo das escolas aqui, isso podiam. Copiar o que é bom pra variar.

Obama vs. McCain

Várias pessoas me perguntando o que vai acontecer em Novembro com as eleições americanas.

Eu não sou vidente. A corrida está apertada - apesar de eu não conseguir entender como quase 50% dos eleitores consegue cogitar eleger um Republicano depois dos últimos 8 anos...

Nada contra os Republicanos. Não sou democrata. Nem Republicano. Mas os últimos 8 anos - 6 dos quais os Republicanos tiveram o controle do executivo e do Legislativo (nos últimos 2 os Democratas tem a maioria do Legislativo... e não fizeram NADA de útil) - foram, pra ser gentil, um desastre.

O estado atual da economia aqui é reflexo de uma total falta de supervisão por parte do Governo. Sem contar o déficit público que nunca se viu - lembrando que ao final da gestão Clinton o país encontrava-se com um superavit de US$ 230 bilhões; ou seja gastaram tudo e muito mais do que podiam.

O mínimo que se espera é que haja algum tipo de pena por tamanha incompetência suportada e incentivada pelo partido.

Então não se trata de votar para o Obama e sim não votar pela continuidade da imbecilidade reinante.

Mas se isso vai acontecer? Se o Obama vai ser eleito?

Ninguém sabe.

A paranóia do Google omnisciente...

Com o lançamento do Chrome começou de novo a gritaria de que o Google está se tornando o grande big brother e que o lema "Don't be evil" (Não seja mau) é só fachada.

Eu não sou fã da Microsoft. Não porque eles sejam maus ou porque eles cobrem caro por seus produtos. Mas porque os produtos deles, na minha opinião, deixam muito a desejar. Não é uma questão de preço. É uma questão de valor.

Sou fã da Apple, mas tenho total e completa noção de que comprar Apple significa abrir mão de oportunidades de escolha. Eles só vendem o software (que é o que me interessa) casado com o hardware, são poucas as variações de hardware e as possibilidades de configuração pequenas, os preços são altos, e se eles puderem amarrar os seus usuários a produtos que só eles provêem - eles o fazem sem cerimônia. Só que a experiência conjunta que a Apple provê, ainda que cara, me atende melhor que outras opções. De novo: é uma questão de valor.

O modelo de negócios do Google é venda de propaganda. É assim que eles ganham (muito) dinheiro. É claro que todo e qualquer serviço gratuito que eles lançarem vai se remeter ao modelo de negócios.

Eu uso: Reader, Gmail, Docs, Calendar, Blogger, Orkut, Translate, além é claro do serviço de busca e com certeza outros serviços.

Não porque eu ache que o Google é lindo. Mas porque o valor desses serviços - sendo gratuitos e excelentes - é o suficiente para me convencer a conviver com o fato de que - SIM, o Google vai usar de toda a forma possível as informações que coletam sobre o meu uso para apresentar propaganda e ganhar anunciantes. Porque é assim que eles ganham dinheiro.

Enquanto eu suporto a iniciativa de determinadas entidades (como a União Européia) de buscar que o Google seja mais amigável a privacidade de seus usuários; eu não acho que o Google esteja planejando nada além de remunerar seus investidores e prover serviços de acordo com seu modelo de negócio.

Mas será que essa informação toda pode ser mal utilizada?

Claro. E digo mais - será mal utilizada. Basta o governo de um país pedir na justiça e os dados voam dos servidores do Google para as autoridades. E não vai importar muito se o pedido vem de um governo democrático ou não, baseado numa necessidade real ou não; basta o pedido ser baseado na justiça local.

Mas isso é verdade para qualquer serviço online - vide os casos recorrentes envolvendo o Yahoo, bloggers chineses e o Governo da China. O Google só tem o potencial de ter uma concentração maior de informação, nada mais.

Então, nos cabe ser inteligentes a respeito. Como tudo mais há que se avaliar o benefício e o risco de usar os serviços. E minimizar o risco usando os serviços de forma inteligente.

Claro, tão somente minha opinião.

8 de setembro de 2008

Mais prêmios à irresponsabilidade

Muita gente está comprando uma segunda casa e abandonando a atual que não conseguem pagar!

Ou seja: gastaram mais do que podiam e contribuíram pro caos imobiliário atual. Estão com a corda no pescoço e devendo a banco, mas conseguiram uma grana e dão de entrada numa nova casa - as vezes maior/melhor que a atual - mas mais barata porque o mercado imobiliário foi pro inferno. Ainda por cima conseguem termos de hipoteca melhores porque não precisam dos termos predatórios pra comprar uma casa muito além do seu alcance financeiro. E aí abandonam a casa antiga que não podem pagar, mais uma vez contribuindo para o caos imobiliário.

Isso pra mim é fraude.

7 de setembro de 2008

Fannie Mae, Freddie Mac e o prêmio ao cidadão irresponsável...

Pois é. O Governo Americano tomou o controle do Freddie Mac e da Fannie Mae, as duas maiores agências de empréstimo para aquisição de imóveis dos EUA. Veja: não se trata de estatização - as empresas continuam sendo públicas (apesar de ninguém saber o que a intervenção significa para os investidores que detém ações das mesmas), mas estão sendo controladas pelo Governo - que já afirmou que remunerar os investidores passou a ser secundário no objetivo das mesmas.

Ao mesmo tempo que penso que sem a intervenção a crise se agravaria, como contribuinte fico um pouco revoltado. Eu tive o cuidado de não emprestar mais do que podia pagar, de não comprar uma casa além das minhas posses, de juntar dinheiro... E agora o dinheiro dos meus impostos vai ser usado para ajudar justamente a parcela da população que não fez nada disso - muito pelo contrário.

Acho que no decorrer da semana vamos descobrir o que essa intervenção vai significar para os mercados mundiais. As primeiras impressões - vindas dos mercados asiáticos - são de que a medida vai acalmar os mercados porque sugere que a crise imobiliária finalmente pode ser dirimida em breve.

Então fica assim: como contribuinte revoltado; mas como dono de uma casa que precisa ser vendida e investidor no mercado de ações, talvez eu deva estar feliz com o que está acontecendo com Fannie e Freddie.

PS. Me toquei que disse que as empresas continuam sendo públicas e que no Brasil isso pode ser entendido de forma inversa... Empresa pública - pra mim - é a empresa que tem ações disponíveis no mercado. Uma empresa pública é diferente de uma empresa ESTATAL. Acho que no Brasil ainda se pensa em empresa pública como pertencente ao Governo. Não foi minha intenção.

PPS. Claro que alguns dos maiores detentores de ações da Fannie e Freddie vão sofrer. Bancos em particular - que já não andam bem das pernas. Se vai haver mais quebradeira? É possível. Se o mercado não vai cair em função disso? Talvez, mas qual seria a alternativa?

6 de setembro de 2008

Crise americana...

Não deve ser novidade pra ninguém que aqui nos EUA estamos passando por uma crise imobiliária que já afetou de forma grave os mercados financeiros. Bancos falindo, dificuldade em financiar novos imóveis, mercado de ações completamente enlouquecido, empresas fechando, desemprego aumentando, etc.

Mas a coisa lida assim é impessoal. Viver aqui enquanto as coisas estão acontecendo é que são elas...

Hoje, voltando do cinema (minha mulher me arrastou pra assistir "Mama Mia" - o que eu fiz para merecer isso eu não sei) assistimos alguns vizinhos enchendo o caminhão alugado com seus pertences. Depois soubemos pela rádio fofoca que o dono da casa que eles estavam alugando perdeu a casa pro banco, e eles que alugavam tiveram de desocupar o imóvel.

Ainda pela rádio fofoca soubemos que outro vizinho que se mudou pra cá recentemente, alugando, veio depois de perder sua casa em uma área nobre por causa de dívidas com o Imposto de Renda americano.

Vi também o vizinho de um amigo colocar a casa a venda, passar um ano tentando vender - preços despencando, ele em desespero - e finalmente perder a casa pro banco. Ele não conseguia pagar a hipoteca.

Um outro conhecido recebeu aviso prévio da empresa: em três meses não tem mais emprego - a empresa vai fechar a filial da Flórida.

O problema maior pros indivíduos é o fato de eles estarem endividados até a alma. Por muitos anos vendeu-se o mito de que bastava ter crédito pra ser feliz. E tome de comprar eletro-eletrônicos de ponta, e tome de fazer leasing de carros de luxo, e tome de comprar casas maiores e mais caras do que é necessário.

Famílias de 3 pessoas vivendo em casas de 5 quartos, 3 banheiros, piscinas e saunas, dirigindo BMWs e devendo US$ 50.000,00 nos múltiplos cartões de crédito. Pessoas solteiras fazendo leasing de porsches que custam mais que uma hipoteca, e fazendo viagens internacionais para hoteis cinco estrelas - tudo a base de crédito. Alguns, pra piorar a situação, obtiveram o crédito hipotecando uma segunda vez suas casas.

E se você perguntar pra essas pessoas o quanto eles guardaram - se eles tem uma reserva ou se estão juntando um dinheiro pra sua aposentadoria? A resposta é não. Claro.

Então, a crise é real. Mas eu não sinto pena de quem comprou uma casa muito mais cara do que podia pagar. Ou de quem perdeu tudo depois de passar semanas na Europa em férias. Ou de quem tem 3 carros na garagem - todos leasing - e agora reclama que não tem como cobrir seus custos porque perdeu o emprego.

A crise é agravada pela incompetência, irresponsabilidade, e falta de visão do próprio cidadão.

Não é sempre assim?

4 de setembro de 2008

A template é a mesma, mas a largura... quanta diferença!!!

Eu dei uma modificada leve na template e nas imagens do blog pra que o texto não fique espremido como dantes.

Enjoy! :-)

1 de setembro de 2008

Java, complexidade, opções

Sou um devotado programador Java. Gosto da linguagem - apesar de achá-la um tanto verborrágica - e principalmente do universo de bibliotecas disponíveis para a mesma: apache (sigh... foi mal. Passei o dia configurando o Apache server) jakarta commons, Spring, JPA, etc.

Mas ultimamente me pego pensando se para o tipo de trabalho que normalmente tenho de fazer, não estou me apegando a linguagem/ambiente errado.

Veja: eu, basicamente, construo interfaces web para bancos de dados.

Eu poderia tentar dourar a pílula, poderia tentar inventar um nome mais pomposo ou adicionar outras coisas que faço no processo da construção dessas interfaces, mas o fato permanece que no fundo no fundo, todo meu esforço redunda numa interface web para um banco de dados. Vá lá, na maioria das vezes eu sou o designer do banco de dados ou pelo menos tenho poder de veto em como o modelo do banco vai ser. Mas meu resultado final: uma interface web pra um banco de dados.

Servlets e JSPs, com JDBC. Certo? Simples, e funciona. Mas você escreve pra caramba. E reutiliza pouco. Então acabamos adotando alguma web framework - Struts, Spring MVC, Wicket, Stripes... A complexidade aumenta um pouco na configuração, mas se escreve menos.

E escrever SQL? Quem faz isso? Hibernate! Ou Toplink via JPA! Todo o sentido do mundo - cria-se uma abstração orientada a objetos em cima de um banco de dados relacional. Pra que escrever SQL? Só naqueles casos em que a performance precisa ser máxima! E você pode reutilizar seus modelos!!! E tudo é POJO se você utilizar dependency injection via Spring!!!

A minha produtividade não aumenta com a adoção desses add-ons todos. Pelo contrário. Eu aos poucos virei um escravo dos add-ons. E de repente passo mais tempo configurando e preparando o ambiente do que realmente resolvendo as necessidades dos meus usuários por uma página web que apresenta/edita/cria dados num banco de dados. E a quantidade de documentação que eu tenho de ler? Bíblias pra cada uma das tecnologias.

Não estou dizendo que a culpa é do java ou dos add-ons. Estou dizendo que eu acho que trabalho mais do que o necessário para poder chegar ao ponto de começar o meu trabalho de verdade. Não está funcionando pra mim.

Há um ano, mais ou menos, olhei Ruby On Rails. Gostei. Mas achei que a coisa era uma mudança de paradigma grande demais pra mim. Era fácil fazer o básico, mas fazer o complexo, dar o próximo passo, requeria de mim um investimento de tempo que eu simplesmente não tinha. E, nenhuma ofensa a ninguém, questão de gosto particular, não gostei de Ruby. E a comunidade RoR tem em seu lider um sujeito quase tão insuportável quanto o Gavin King do Hibernate... DHH (David Heinemeier Hansson), como Gavin, não é um sujeito paciente e bacana. Eu sou de opinião que podemos espressar nossas opiniões sem chamar todo mundo de idiota... Mas isso sou eu.

Comecei a olhar Python primeiro como uma scripting language pra resolver pequenos problemas administrativos. Funcionou bem e eu adorei a linguagem. Não sei explicar porque. Fez sentido e ressonou comigo.

Ai, encafifado com a minha incapacidade de produzir mais rápido em Java, comecei a explorar web frameworks em Python. Primeiro vi TurboGears. Achei OK. Mas descobri Django!

OK, Descobri talvez seja um excesso. Estou descobrindo. E estou gostando.

Pra início de conversa a aplicação de administração que é construida automaticamente com base nos objetos python que abstraem o banco de dados, é a melhor coisa em termos de geração de código que eu já vi. 90% das interfaces que eu preciso desenvolver se encaixariam no que essa interface de administração faz automaticamente, de graça, só baseado nos objetos que abstraem as tabelas do banco. Essa interface de administração é diferente do Scaffolding provido pelo Rails. Os objetivos são diferentes. As scaffoldings do Rails são um ponto de partida, enquanto a interface de administração do Django é uma sólida implementação de uma aplicação de Content Management automática pra sua aplicação web.

Mas não é só isso: o fato de que você pode com facilidade fazer o design das suas URLs com expressões regulares, que o sistema de templates é simples mas já conta com um suporte parecido com o do sitemesh ou tiles em java (basicamente uma template herda de outra e só precisa override o que interessa), e a simplicidade semi-arcana da abstração das tabelas do banco - não só pra bancos de dados novos, mas pra bancos pré-existentes...

E tudo MUITO veloz. E tudo numa linguagem só - Python.

Estou empolgado. Pela primeira vez em muito tempo estou me divertindo com desenvolvimento web, com velocidade de produção e num ambiente e línguagem que me são confortáveis. Sim, sinto falta de algumas coisas - por exemplo nada se compara a Rails Migrations - mas acho que com o amadurecimento do Django esses vácuos vão se preencher.

Tentarei postar aqui sobre minhas incursões.