14 de julho de 2004

A nação do "comigo não tá!"

No Brasil, como em outros países, temos o famoso pique-pega (aqui nos EUA conhecido como "tag"). Eu me lembro de, quando a brincadeira era sugerida por alguém, todo mundo gritar "Comigo não tá!", e o último a falar era o primeiro a ser o pegador (ou "It" como os americanos dizem).

Os EUA de tem tantos paralelos nas suas relações de responsabilidade individual com o famoso "Comigo não tá!" que eu as vezes me surpreendo...

Ao ler que o livro "REAL Ultimate Power" foi banido da cidade de Odessa no Nebraska (tradicional tradução porca) - ATENÇÃO, obviamente ao olhar atento, uma paródia, mas que me enganou na primeira olhada, enganou! :-( - tive de debater com alguns americanos o absurdo da história e da decisão. E me foi contada a história de uma família que processou a banda Judas Priest porque o filho havia se suicidado e possuia um disco da banda (não, ele não estava ouvindo o disco da banda quando se matou ou deixou um bilhete dizendo que a banda havia dito para ele se suicidar; simplesmente possuia um disco da banda).

Eu escutei muito Judas Priest e estou aqui escrevendo, apesar das minhas claras tendências depressivas.

Banir livros me é especialmente detestável porque eu não consigo - problema meu - não relacionar a atitude à queima de livros promovida pelos nazistas.

O que me mata em todas as histórias - e estórias - é que normalmente é nítido que alguém está tentando imputar a outrem a responsabilidade que na verdade é sua - e de mais ninguém.

Neste caso específico (e fictício), dois adolescentes provocaram um cão que acabou por morder o irmão mais novo de ambos, ainda um bebê.

De quem é a culpa pela atitude do cão?

Dos adolescentes, claro.

De quem é a culpa pelo comportamento dos adolescentes?

Dos pais que não ensinam a seus filhos que animais podem ter um comportamento intempestivo e até violento - por mais mansos que sejam, ainda são animais e a natureza não perdoa.

Mas essa mãe encontrou outra pessoa para responsabilizar pelo filho machucado: o autor do livro que os adolescentes estavam lendo.

Bem, vamos admitir por um momento que o livro da paródia possa ter dado a idéia de provocar o cão aos adolescentes... Os pais não sabem o conteúdo do que os filhos lêem? Eles não ensinam os filhos as normas básicas de conduta em sociedade e o que é certo e errado? Os filhos não são ensinados a ler, ANALISAR, e atuar sobre o conteúdo do que estão lendo?

No fim das contas, mais um caso de pais que não estão desempenhando seu papel.

E buscando um bode expiatório para a própria incompetência.

O pior é que esse é o comportamento da maioria por aqui...

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