26 de junho de 2007

E a compra da SERASA significa o que para você?

O grupo Experian comprou 65% da SERASA, afirma o jornal o Globo.

Experian é um dos três grandes bureaus de informação sobre crédito aqui nos EUA. O sistema de crédito aqui é bem diferente do sistema de crédito no Brasil (ou pelo menos o sistema de crédito que eu conheci quando morei aí).

Meu entendimento do sistema de crédito no Brasil é: se seu nome não está no SERASA, você não foi pego dando o calote em ninguém. Ponto. Um agente financeiro tem de basear a sua decisão de emprestar ou não a um indivíduo em outras informações, claro, mas no que tange a SERASA é isso: o cara já deu calote em alguém ou não.

Aqui nos EUA o sistema é bem mais desenvolvido. Basicamente, a Experian e dois outros bureaus, mantém uma relação com todos os agentes financeiros. Os agentes reportam aos bureaus a utilização do crédito (pagamentos em dia, atrasos, crédito disponível, etc) de indivíduos (identificados pelo seu Social Security Number, um tipo de CPF) e cada bureau tem uma fórmula para calcular um índice numérico que identifica o grau de segurança do indivíduo na sua utilização de crédito.

Exemplo: João tem dois cartões de crédito, uma hipoteca, e dois carros financiados. Os agentes financeiros que emprestaram a João o dinheiro para comprar os carros e a casa, e as operadoras dos cartões de crédito reportam aos bureaus que ele pagou em dia a hipoteca e os carros e que tem US$ 5000 de débito nos cartões. Os bureaus usam uma fórmula mágica que involve o montante de crédito disponível para João (soma dos limites dos cartões mais qualquer outra linha de crédito), o número de anos que ele tem cada linha de crédito (quanto mais antigo melhor), pagamentos em atraso, etc; e definem que João tem um índice de crédito de 680. Agora outras empresas interessadas a estender crédito a João tem um balizador definido de que João tem um crédito adequado (qualquer coisa acima de 750 séria considerado excelente).

Porque esse esquema de um índice individual é melhor? Porque quando você tem um indicador do risco envolvido em emprestar para um indivíduo, duas coisas acontecem:

a) Se você é bom pagador (índice alto), passa a ter crédito barato porque o agente financeiro sabe que o risco de emprestar a você é menor

b) Se você é mau pagador (índice baixo), ainda assim pode conseguir crédito - ainda que mais caro - porque o agente financeiro tem condições de gerenciar seu risco

O índice não é, com certeza, a única coisa que é avaliada por empresas estendendo crédito a um indivídio. Na verdade, a primeira coisa que um agente financeiro faz antes de estender crédito e olhar o índice, e com sua permissão passam a analisar todo seu histórico. A decisão é tomada com base no seu histórico como um todo. O índice é um filtro básico.

Mas com certeza o sistema como um todo é muito melhor do que o "tá na lista negra" que é o sistema de informação de crédito no Brasil.

Se a Experian vai implementar um sistema similar, adequado a realidade nacional, eu não sei.

Mas que seria bom, seria.

18 de junho de 2007

E, não há visto disponível...

Lembra daquela vaga de emprego? Depois de conseguir um candidato bem qualificado, aceito pela empresa que tinha interesse em contrata-lo imediatamente, a burocracia das fronteiras deu sinal.

Não há mais vistos H-1B disponíveis para 2007. E só se pode aplicar para vistos em março de 2008, com possível aprovação para Outubro!!!!

Meu chefe ficou absolutamente deprimido.

O fato é que não existem candidatos locais - com aquela explosão da bolha em 2000 e a propaganda intensa de que os empregos de TI estavam todos indo pra Índia, a maioria das pessoas preferiu seguir outras áreas de profissionalização. Pra completar, existe um tremendo preconceito contra a Florida (parte baseado na história e parte em mito) e os furacões também não ajudam.

Mas o sistema de admissão de profissionais não foi adaptado a essa realidade.

Quem sabe, se a vaga ficar em aberto até início de 2008, não há nova chance?

8 de junho de 2007

E a visita ao Brasil?

Cada vez que volto ao Brasil, diminui minha vontade de voltar no ano seguinte.

Não se trata de começar de novo o exercício de malhar o Brasil. Estou cansado de apontar os problemas. E, sinceramente, de que adianta? Eu posso apontar problemas e até propor soluções pelo resto da minha vida. Mas ninguém está, efetivamente, minimamente interessado no que tenho a dizer.

A cada visita volto pra casa um pouco mais deprimido com o Rio de Janeiro em particular e o Brasil como um todo. Usar o termo deprimido não é exagero, é fato. Me sinto sem energia só de ver o estado das coisas.

Dirigir, que já era um problema quando eu morava por aí, é um exercício de paciência franciscana. Não se vai a lugar nenhum nos horários de trânsito mais pesado, em menos de 2h. E nos horários de trânsito mais leve, os motoristas tentam compensar e estravazam toda a sua frustração numa fúria desmedida.

A divisão entre os que tem e os que não tem praticamente desaparece no Rio - diferente de São Paulo que isola os menos afortunados na periferia - e os que tem alguma coisa se esforçam, ao que parece com bastante sucesso, pra ignorar os que não tem nada. Enquanto isso os que não tem nada são açoitados com o poder aquisitivo que eles não tem a menor chance de alcançar e que provavelmente será inalcançavel pelos seus filhos e netos.

Hoje, enquanto dirigiamos num carro que muita gente não sonha em poder ter e ouviamos um CD da Elis, eu olhava para uma favela enorme e as crianças correndo descalças atrás de uma pipa avoada. E do túmulo Elis entoava a letra de "Maria, Maria":

De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas agüenta
Eu não sei se a sociedade está pior do que quando saí ou se eu estou menos tolerante a essa degradação num país que tem aspirações de longa data a ser uma nação importante no cenário mundial.

Só sei que me dá uma tristeza infinita vir aqui e presenciar tudo isso.

Candidatos...

Divulguei o máximo que pude a vaga em aberto na empresa pra qual trabalho na Flórida.

Dois candidatos. Ambos qualificados. Ótimo. Vamos ver o que acontece.

Devo dizer que estou absolutamente surpreso... Eu esperava uma procura muito maior. Algumas pessoas que sempre me encheram o saco pra eu arrumar emprego pra elas por lá, com qualificações adequadas, receberam a notícia da vaga e a ignoraram sem cerimônia ou me responderam dizendo que "não dá porque..." e cada um tinha uma explicação de 10Km que no fim redundava em "família".

Oras, morar no exterior pressupõe:

a) Sacrifício inicial da família imediata, que se muda para o exterior a reboque e tem de se adaptar ao novo ambiente.

b) Sacrifício da família extendida, que terá de se contentar nos inúmeros meios de comunicação que tornaram o mundo bem menor.

Ou seja: fogo de palha. Todo mundo acha bonito dizer que quer morar no exterior, mas na hora H, começam a pensar e sacam que não tem coragem ou não estão preparados. Ou simplesmente não querem.

Pra que a presepada? Pra que fingir que tem interesse?

O medo é tolo. Um dos candidatos, muito sabiamente como de costume, disse algo nas linhas de:

Pior do que aqui não pode ser. E na hipótese improvável de ser pior, volta-se ué!

Pena que nem todo mundo entende esse fato tão simples.

Bom pros dois candidatos, eu suponho. Menos concorrência.