16 de junho de 2004

Eu não ia dizer nada não, mas...

Eu ia ficar quieto, mas me ocorre que a maioria das pessoas que não sabe o que é o Software Livre não vai entender o que está acontecendo...

A Microsoft leva à Justiça defensor de software livre no governo, de acordo com o Estado de São Paulo.

Eu também vi a mesma notícia bradada pelo pessoal do Software Livre no Brasil, completamente indignados.

Eis aqui a minha opinião em termos que espero sejam acessíveis.

A analogia do representante do governo é perfeita. Qualquer empresa que dá um produto que custa dinheiro de graça, certamente não o faz pelos belos olhos de quem o recebe. No caso do software, a empresa certamente está criando um mercado (usuários acostumados com a plataforma, profissionais treinados para utilizá-la, etc) e gerando demanda por futuras atualizações e até mesmo contratos de suporte. Isso é exatamente o que os traficantes fazem para criar demanda: a primeira "compra" é barata ou de graça, e depois você paga o preço que eles pedirem porque viciou.

Claro, dizer isso com todas as letras pode, sem dúvida, ser considerado difamação. E a Microsoft tem todo o direito de contestar a afirmação na justiça. Que a justiça decida.

Quanto as táticas de "Medo, incerteza e dúvida" (em inglês "Fear, Uncertainty and Doubt - FUD"), novamente ele está correto. Basta ver a comparação que o diretor da Microsoft fez quando o Governo decidiu adotar o software livre: que nós estariamos a ponto de replicar o desastre que foi a Reserva de Mercado de Informática.

Ora, o movimento Software Livre é exatamente o contrário de um movimento de reserva de mercado, que é o que a Microsoft promove no mundo inteiro!!!

O software livre não é um fenômeno isolacionista, como foi a Reserva de Mercado, muito pelo contrário. O software é aberto incondicionamente para pessoas do mundo inteiro. Correções, inovações, expansões, documentação, tudo é compartilhado e pessoas de todos as origens frequentemente contribuem. Não há termo de comparação entre um sistema que promove a abertura e reserva de qualquer coisa. E deixe-me garantir a você que a Microsoft não permite a quase ninguém ver o código-fonte de seus produtos, muito menos o código-fonte INTEGRAL de seus produtos.

A grande vantagem do software livre não é o fato de ele ser (algumas vezes) gratuito.

A grande vantagem é justamente o acesso ao código-fonte (daí o livre). O Governo Brasileiro pode adotar os sistemas e, como tem acesso ao código-fonte, decidir se deve investir na melhoria do código ou na modificação para melhor adaptá-lo aos seus objetivos.

Outra grande vantagem é que nós - a população - através de indivíduos que conheçam programação ou organizações desses indivíduos, passam a ter a oportunidade de avaliar em parte (sempre haverão sistemas proprietários, ainda que desenvolvidos internamente no Governo) a plataforma de computação adotada; em última análise como o Governo está gastando nosso dinheiro.

E, além de todas essas vantagens, algumas vezes o software livre também é gratuito na instalação - o suporte e a manutenção de qualquer software tem um custo indissociável.

Finalmente, na minha opinião, para muitas das atividades do Governo o software livre cabe com uma luva. E incentivar seu uso é fazer bom uso do dinheiro público. Pelo menos uma vez!

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