11 de setembro de 2008

Educação primária nos EUA

Minha filha é minha ponte pra entender o sistema de educação americano.

Quando viemos pra cá ela tinha dois anos. Aos 5 começou na pré-escola em Wisconsin. Terminou a segunda série na Florida e hoje está na quinta série.

É interessante acompanhá-la e notar as diferenças entre o sistema de ensino que eu conheci no Brasil e o que ela vive hoje.

Leitura por exemplo. No início de cada trimestre as crianças fazem um exame computadorizado que define um nível mínimo e máximo de dificuldade que se adequa à criança e, numa conversa com os professores, definem uma meta de leitura. Cada livro disponível (são centenas na biblioteca da escola) tem uma gradação de dificuldade e um equivalente número de pontos possíveis. A criança termina de ler e faz um teste de compreensão, também computadorizado, e recebe os pontos equivalentes ao seu percentual de acertos. Então se o livro vale 10 pontos e ela acertou 80% das perguntas, são 8 pontos que contam para a meta de leitura. 10 pontos, por sinal, é um livro de boa dificuldade para uma criança de 10 anos. A meta da minha filha para este trimestre é 60 pontos. Ou seja: ela tem de ler pelo menos 6 livros de boa dificuldade num período de três meses - mas mais do que isso: ela tem de entender o que leu e desenvolver seu vocabulário através dessa leitura.

Não foi assim que eu aprendi a ler. Não tenho certeza, mas vou arriscar que não é assim que se ensina a ler nas escolas particulares do Brasil - que dirá nas escolas públicas.

Matemática também está sendo uma surpresa. Até a terceira série estávamos acompanhando-a no aprendizado do básico do básico. Como aprendemos no Brasil. Mas da quarta série em diante a coisa mudou: estão investindo em estratégias para tornar a matemática útil no dia a dia. Técnicas para calcular de cabeça usando uma estratégia complementar para adição e subtração (exemplo: 345 + 555, ensinam a criança a somar 55 ao primeiro termo e subtrair 55 do segundo. 400 + 500 = 900). Veja, ela estudou geometria - triângulos equiláteros, retângulos, etc - mas a ênfase é na matemática de compreensão. Frações sim, mas números com pontos decimais tem uma ênfase mais séria. Equações de primeiro grau sim, mas com a ênfase de resolver problemas e estimular o raciocínio matemático. O interesse parece ser que a base sólida esteja presente para o dia a dia e, mais tarde, quando necessário, será feito o investimento em matemática de nível mais alto.

Claro que existem falhas. Eu acho o ensino de geografia péssimo. Extremamente limitado aos EUA. Ciências ainda é cedo pra dizer... Mas me preocupa a possibilidade de falarem de criacionismo (ou, como chamam hoje em dia, 'Intelligent Design') ao invés (ou além) da teoria da evolução...

Na nossa casa acompanhamos de perto a educação dela - que eu considero obrigação de qualquer pai e mãe - e corrigimos, provemos mais informação ou orientamos que ela use raciocínio crítico antes de aceitar como verdade divina o que vê na escola. Cansamos de conversar sobre como a pergunta mais importante do mundo é "Porquê?".

A escola instrui. Os pais instruem e educam.

Isso devia ser universal.

Mas que as escolas no Brasil podiam aprender um pouco do que é positivo das escolas aqui, isso podiam. Copiar o que é bom pra variar.

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