10 de fevereiro de 2005

Sobre classismo no Brasil

No Globo de hoje eu li um artigo do Ali Kamel - jornalista inteligente - falando sobre as perseguições que sofre o presidente (com pê minúsculo de propósito) Lula por uma atitude de classismo da sociedade brasileira.

O jornalista tem absoluta razão. Uma coisa é criticar políticas idiotas da administração Lula, seu claro despreparo para exercer a função (daí o pê minúsculo), e sua equipe absolutamente mal escolhida; outra completamente diferente é criticar o cara porque ele estaria "deslumbrado".

O fato é que no Brasil a discriminição além de racial (discordo do jornalista neste ponto, racismo é patente, gritante e crescente no Brasil) é financeira.

Claro, a discriminação financeira no Brasil pode até advir do fato de que quem tem grana acaba tendo acesso a melhor educação (privada), melhor saúde (privada), mais oportunidades na vida, etc.

Nos EUA, a discriminação também acontece, mas entre os podre de ricos e o resto, não entre a classe média e os pobres... Estes últimos frequentam as mesmas escolas, se alimentam de forma similar (aqui não tem paupérrimo!) e tem as mesmas chances iniciais. Cabe a cada um correr atrás...

No Brasil, quem começa como classe média tem muito mais chance de acabar classe média do quem vem de baixo de verdade. Salvos honrosas exceções que mereciam medalhas! Bom, isso se desconsiderarmos que tem muito classe média migrando para as camadas inferiores...

A classe média - que há muito perdeu a sensibilidade para o horror que os cerca e vivem num estado de constante negação da realidade - acham natural tratar por "Dr." um político que roubou até ter o que tem, enquanto buscam eufemismos baratos para nomenclaturar a empregada que os atende todos os dias.

Não é discurso de socialista não. Eu acredito que quem trabalha tem direito a ter mais que outros que não trabalham tanto. Eu acredito que a pessoa tem o direito de tomar as rédeas do seu destino e enriquecer o quanto quiser ou conseguir, e que o fruto desse trabalho todo é delas - de mais ninguém.

Mas a verdade é que no Brasil falta um efeito nivelante à sociedade.

A educação deveria ser esse fator nivelador. Se todo mundo tem o mesmo nível de BOA educação, as chances melhoram para todos.

Infelizmente, na administração do presidente, a ênfase é universidade, e não educação fundamental.

Tem de se andar antes de correr, presidente.

Com pê minúsculo.

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