- Eu alguma vez já te contei que eu começei uma pós-graduação em marketing?
- O quê?
- Sério...
- Mentira!
- Sério mesmo! Eram 2 anos de curso e eu cheguei a completar um ano...
- Porque parou?
- Ah, maluco... Era rídiculo né? O amontado de abobrinha que os caras impingiam aos alunos... E os alunos? A maioria nem emprego tinha ainda, récem saidos da faculdade e já de novo numa sala de aula para pegar outro título e ver se aumentavam as chances de um empreguinho numa grande empresa para se encostar. Os que tinham emprego eram os administradores e economistas que achavam que o curso ia dar eles o alcance para posições melhores nas empresas...
- Pô, mas não se aproveitava nada?
- Não, também não é assim... Eu achei bem legal ver como é que o outro lado da moeda - as pessoas que só tem de dizer o que nós vamos fazer e não pegam no pesado - funciona. Os caras vivem numa realidade diferente...
- Como assim?
- Exemplo: essa classe que você está escrevendo. Eu tô vendo que você está usando os princípios de Test Driven Development. Vc tem um teste automatizado para validar seu programa... Isso é uma preocupação com qualidade.
- Ué, claro. Nós estamos cansados de saber que se não tivermos essa preocupação os clientes vão ser prejudicados, e reclamar.
- Pois é... O pessoal de vendas não tá nem aí pra isso. Qualidade pra eles é o cliente ter uma imagem simpática deles e eles alcançaram a cota de vendas do período. Se o produto não estiver funcionando, a próxima versão conserta. Ou então, até lá, eles arrumam outro emprego - talvez com o concorrente.
- Ah, peralá... Você tá exagerando!
- Exagerando? Cara, os caras nesse curso só se preocupavam com duas coisas: propaganda e vendas. Tinha um cara falando de gargalos e produtividade mas a aula dele era a mais curta e com menor frequência.
- Então vai ver que você pegou o curso de marketing errado, a escola errada, sei lá...
- Não cara, eu acho que não. Eu acho que os caras são treinados pra vender e só. Assim como a maioria de nós é treinada pra resolver problemas através de software e só.
- Mas isso é uma temeridade...
- É, eu sei... E por isso que nossos parceiros pressionam para que entreguemos softwares sem nenhum tipo de análise de requisitos, sem nenhum tipo de teste extensivo, em grandes blocos de funcionalidade, e tudo pra ontem. E é por isso que nossos gerentes acham tudo isso absolutamente normal. Foram todos treinados na mesma linha "filosófica".
- Mas, sei lá... De repente a gente pode educar essa gente...
- É sim. Você só pode estar brincando...
- Porquê?
- Cara, mesmo que eu educasse o nosso gerente para ele entender os problemas que ele causa com decisões abruptas e sem conhecimento de causa, e assumindo que ele me entendesse; o chefe dele vai continuar tomando decisões abruptas e sem conhecimento de causa! E mesmo que eu conseguisse educar o chefe do meu chefe, e todos os chefes acima dele, teriamos os clientes para educar...
- Então não tem jeito...
- Tem. Nós temos que ter uma pessoa que entenda os problemas, que conheça o trabalho, fazendo o papel de um ombudsman tecnológico. A criatura vai ter de deixar de atuar como profissional técnico para ser um semi-morto-vivo: nem gerente nem programador... Um pé em cada mundo. Seria um posição altamente burocrática, mas fundamental. Eu vejo reuniões... Centenas de reuniões num mês. O cara passa o dia explicando obviedades para que seus colegas técnicos possam fazer seu trabalho da melhor forma possível. Um mártir, um mártir!!!
- Hmm. Pode ser. Mas porque começamos a falar nisso mesmo?
- Porque você começa amanhã como morto-vivo. Parabéns!
- ...
28 de janeiro de 2005
Produção x Vendas; o diálogo
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