6 de janeiro de 2005

O problema dos monopólios - exemplo maior: Microsoft

Numa entrevista para a CNET, Bill Gates fala de quase tudo que a Microsoft vem fazendo mercado de varejo.

Um destaque, sobre o Firefox:

"Bem, as pessoas se confundem sobre os browsers. Você pode ter quantos navegadores você quiser no seu PC, da mesma forma que você pode ter toneladas de music players e coisas do tipo.

Portanto quando as pessoas dizem 'Firefox está sendo baixado para as máquinas das pessoas', é verdade, mas o Internet Explorer (IE) também está nesses sistemas. O Firefox é novo e as pessoas estão testando. Há uma percentagem de pessoas que fazem isso - é muito fácil baixar.

Nós precisamos manter o IE o melhor. Nós precisamos inovar o IE, fazer mais aditivos, mais melhorias. Nós temos planos excitantes nessa área. Uma percentagem dos usuários vão tentar o Firefox e o IE lado a lado, e usar o que for melhor."

Minha análise desse comentário tem de partir do total abandono que o IE sofreu desde que foi lançada versão 6 (inclusive com o anúncio por parte da MS de que seria a última versão do produto). A Microsoft não via competição, tinha o total domínio do espaço da aplicação e imediatamente perdeu a motivação para inovar.

Foi preciso surgir o Mozilla, seguido pelo Firefox, com seu tabbed browsing (a la Opera) e as inestimáveis extensions para que a MS se manifestasse. E parece que agora a coisa andará novamente.

O maior problema do monopólio da MS é esse - apesar deles insistirem que são inovadores por natureza - isso não é verdade. Eles "inovam" - na minha opinião absorvem (idéias ou empresas, depende do quão difícil vai ser para copiar!) - quando começam a perder dinheiro; e só. Numa situação de domínio absoluto, não se movimentam.

Nem mesmo para consertar ou garantir a segurança dos próprios produtos.

O Windows melhorou muito desde o Windows 3.1 ou do 95; não há dúvida. No espaço dos servidores corporativos em grande parte pela pressão da alternativa semi-gratuita - o Linux. As melhorias implementadas nos servidores acabaram de certa forma replicadas também para o mercado consumidor como um todo.

Mas o melhor comentário de todos nessa entrevista veio no bojo de um gracejo (no meu entendimento) sobre propriedade intelectual:

"Existem menos comunistas no mundo hoje do que houveram. Existem alguns mais-ou-menos-comunistas dos dias modernos que querem se livrar dos incentivos para músicos e produtores de filmes e desenvolvedores de softwares sob várias égides. Eles não acham que esses incentivos devem existir."

É um claro "jab" nos que não acreditam no amplo poder que o DRM (Digital Rights Management) ganhou nos EUA - a ponto de hoje em dia até fabricantes de impressora clamarem que as pessoas que compraram seus equipamentos não podem usar cartuchos de tinta de outras empresas porque isso viola sua propriedade intelectual!!! Ou naqueles que acham que o desenvolvimento Open Source é não só viável mas tem o potencial de produzir código de melhor qualidade e portanto softwares mais seguros e em constante evolução.

O problema não é a propriedade intelectual, mas a o uso da idéia e das leis de propriedade intelectual para proibir a evolução natural dos produtos e idéias e, em última análise, a competição.

A outra faceta cruel - de que a MS faz uso constantemente - é o abuso dos direitos do consumidor com as EULAs (End User License Agreement) absolutamente desleais que isentam a MS de tudo e não garantem ao consumidor absolutamente NADA.

O resto da entrevista é o usual "Louvemos a MS" e o "Tudo vai bem" que se espera do dono da empresa.

Mas lembre-se, por mais que você goste da MS, que é sua obrigação como consumidor avaliar as opções.

O Linux - que muita gente acha difícil de instalar e de usar - melhorou muito nos últimos anos. Este post foi escrito numa instalação do Fedora Core 3 que além de ter um desktop muito fácil de usar, instalou de primeira e sem dores de cabeça no laptop da empresa. Se precisar de ajuda, é só falar.

Outra opção é o Mac OS X nos computadores da Apple - na minha opinião a melhor opção; só que entendo que são inacessíveis a maioria dos brasileiros.

E mesmo se você continua rodando o Windows, instale softwares open source, instale softwares de empresas menores. Teste, teste, use, use, teste.

É a competição e o senso de perda de dividendos por perda de audiência que vai garantir que a MS vai continuar competindo e "inovando".

Porque, afinal, quem é mais comunista (no sentido mal-utilizado da palavra, de provocar terror, que o Bill quis dar)? Os que querem competição ou os que querem um monopólio? O que é o comunismo senão o monopólio mais terrível?

Competição: sempre um bom negócio.

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