15 de maio de 2007

Porque continuo expatriado...

Este post é um complemento ao raciocínio iniciado no post "Porque emigrei..."

O fato é que viver no exterior, acredito eu depois de 7 anos fora do país onde nasci e fui criado, muda nossa percepção da realidade. Talvez porque a realidade mude tanto. Vários fatos comuns ao dia a dia brasileiro simplesmente desaparecem, as diferenças culturais (positivas e negativas) começam a tomar vulto - e começam os questionamentos.

Continuo expatriado porque quando penso em voltar ao Brasil, o que me passa pela cabeça são as coisas óbvias, como:

  • Horas de trabalho insanas pra poder ter uma renda digna
  • Sonegação ou literalmente entregar quase metade da sua renda pra um Estado que não te dá NADA de volta
  • Dupla tributação (a de direito e a de fato)
  • Crescente insegurança (beirando o terrorismo) do Rio (a outra opção, na minha profissão é São Paulo, que não é muito melhor)
Essas são auto-explicativas e não vou perder tempo discorrendo a respeito delas. Todo Brasileiro sabe do que eu estou falando, não importa se morando no Brasil ou no exterior.

Mas há também as coisas que, para quem ainda está no Brasil, seriam consideradas exóticas:
  • Eu não quero mais explorar a mão de obra barata de outras pessoas (empregadas)
  • Eu não quero mais contribuir com o dinheiro dos meus impostos para manter o abismo social
  • Eu não quero viver pensando que o amanhã vai ser melhor - mesmo contra todas as evidências
  • Quero limites na conduta das pessoas no que diz respeito a minha vida - infelizmente a maioria dos brasileiros abusa das relações de amizade; como me lembro toda vez que vou ao Brasil e começam os pedidos pra "levar uma coisinha"
Claro, é tranqüilo continuar expatriado quando se tem a opção de fazê-lo legalmente no país adotivo e até mesmo opções de outros destinos que não o Brasil.

Mas tranqüilo não quer dizer fácil.

*****

Todos os dias tem aquele momento em que eu queria simplesmente estar no Rio. Sem nenhum motivo particular. Simplesmente queria poder falar português. Ou ir almoçar num botequim. Ou encontrar os amigos pra um chopp no fim da tarde...

Não dá.

Queria que minha filha tivesse a oportunidade de conviver mais com os avós, os tios, os primos. Queria participar da vida em família.

Não dá.


São as coisas que se perde ao se ganhar todo o resto. Vale a pena? Eu acho que sim.

Mas não é fácil.

Um comentário:

Anônimo disse...

Perfeito! I couldn't have said it any better! Penso nessas questões sempre e chego a mesma conclusão que você, ainda vale a pena.