8 de março de 2007

Uma pergunta antiga, um subsídio novo...

Um amigo enviou uma mensagem com um antigo e-mail meu e novos insumos dando asas a uma teoria...

O link original está morto. Tratava-se de um artigo sobre um prêmio que alguns adolescentes ganharam aqui nos EUA por inventarem um ar condicionado mais econômico e sem freon. Um outro link para o artigo original: http://www.freerepublic.com/focus/f-news/1437615/posts

Sem edições, a troca de e-mails abaixo:

Meu e-mail original, de 2005:
"http://www.sltrib.com/utah/ci_2841984

(Em português porco do Google aqui: http://translate.google.com/translate?u=http%3A%2F%2Fwww.sltrib.com%2Futah%2Fci_2841984&langpair=en%7Cpt&hl=en&c2coff=1&ie=UTF-8&oe=UTF-8&prev=%2Flanguage_tools )

Vocês são engenheiros...

Por quê no Brasil nós não vemos coisas assim acontecendo?

Minha suspeita é que o sistema de ensino - não só o público - simplesmente não aponta as crianças e jovens nesta direção. Sem falar, claro, na baixíssima qualidade da escola pública.

Aqui, já no segundo grau, o jovem tem dezenas de matérias eletivas onde ele começa a experimentar com aquilo que efetivamente lhes interessa. Coisas tão diversas quanto física e fotografia... No Brasil engessam o cérebro da gente naquele currículo imbecil (e muitas vezes inútil) e mesmo na universidade não há estímulo para se explorar os interesses e pendores individuais. O cara já chega na faculdade com uma boa idéia das coisas que ele curte e tem maior probabilidade de ter sucesso.

Certamente nós temos gente tão inteligente quanto e tão capaz quanto esses garotos.

Por quê então os EUA tem tanto mais sucesso em desenvolver tecnologias?

Eu sei que existe pesquisa acontecendo no Brasil e que muita coisa interessante em diversas áreas vem dessa pesquisa. Mas ela começa tarde e termina tarde e parece não resultar em produtos úteis como aqui. Eu tenho amigos que estão no universo acadêmico mas parece haver um bloqueio entre o que é acadêmico e o que é prático. Não se vê o resultado das pesquisas chegando em massa ao mercado. Sem contar que, me dizem eles, a maior parte da produção acadêmica é financiada pelo Governo com o nosso dinheiro, e a medida de sucesso é número de publicações, e não resultados práticos.

Exemplo: há um tempo atrás eu vi na TV que a Universidade Federal de Pernambuco (antes de p e b, m - lembrei) tinha desenvolvido um tipo de produto que quando colocado na água limpa fazia as larvas do mosquito Aedes - nosso eterno inimigo - se auto-consumir (digerir mesmo). Esse produto chegou ao mercado? Acho que não. Sabe-se lá quantos outros produtos não chegam...

Se não se conserta isso, não se conserta o resto.

E aí, vem a pergunta mais importante...

Será que quem está a cargo da Educação sequer percebe isso? E se percebe, será que existe algum interesse de mudar alguma coisa?

Neste caso, eu só tenho perguntas.

C.E."

E o artigo apontado pelo amigo hoje:
"Folha de São Paulo, 25 de fevereiro de 2007, por Gilberto Dimenstein

Ensinando a voar

Repetia, como se fosse mantra: "o gosto pelo conhecimento é a melhor herança que posso deixar"


O CEARENSE Expedito Resende, 66, conseguiu atrair a atenção mundial ao inventar um combustível para avião feito à base de óleo de babaçu, atualmente em testes avançados nos laboratórios da Boeing, acompanhados pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos. Mudar o jeito como os aviões voam, usando o chamado "bioquerosene", não seria sua mais importante descoberta.
Professor de engenharia química da Universidade Federal do Ceará, Expedito criou, nos anos 70, o biodiesel. Usando plantas comuns no Nordeste, viu que o combustível servia, sem nenhum problema, nos motores como substituto do petróleo. Mas, na época, não havia tanta consciência ecológica, o preço do petróleo ainda não estava nas alturas e não se sabia como dar escala comercial à sua invenção. Em 1991, alemães e austríacos resolveram usar a descoberta para produzir energia limpa.
Nos últimos tempos, Expedito vem ganhando prêmios internacionais e ajudando a implantar centenas de usinas de biodiesel. Isso significa a perspectiva de criação de empregos, especialmente no Nordeste, e de um recurso contra o aquecimento global.
Por trás dessa tecnologia há uma história não menos interessante sobre quem ajudou a inventar esse inventor. Chama-se José Parente, pai de Expedito -é uma criação muito mais do que biológica.

José Parente tinha 12 anos quando deixou um povoado nas proximidades de Sobral (CE), onde vivia, e mudou-se para Fortaleza. Era o caçula entre seus 28 irmãos, sustentados pelo pai agricultor. Fez o trajeto a pé, sozinho, alimentando-se com o que encontrava no caminho. Tinha dois projetos: obter um emprego e entrar numa escola.
Matriculou-se para o período noturno de uma escola, mas, com o excesso de trabalho, acabou desistindo. Tentou por várias maneiras continuar estudando. Pediu ajuda a seu patrão e ouviu a seguinte frase: "Menino pobre não precisa de escola".
Praticando, José Parente aprendeu as artes do comércio. Adulto, tornou-se empresário, casou, teve nove filhos, todos entraram na faculdade. Repetia algumas frases como se fossem mantras: "o gosto pelo conhecimento é a melhor herança que posso deixar" ou "a maior riqueza está dentro da cabeça"

Nas conversas familiares, sempre vinham as histórias do menino de 12 anos, caminhando sozinho pelas estradas de terra, a frustração pela impossibilidade de estudar compensada pelas habilidades autodidatas. Já empresário próspero (depois teve um banco), José Parente tratou de ajudar aquela escola em que tentou, mas não conseguir estudar.
Expedito cresceu ouvindo esses casos. "Ficou arraigada em todos nós aquela reverência pelo saber", conta Expedito. Essa reverência estava por trás de sua decisão de sair de casa para estudar, como tinha feito seu pai. "Só que, desta vez, sem desconforto", diz ele. Mudou-se para o Rio, onde se formou em engenharia química e, depois, aprimorou-se nos Estados Unidos e na Europa. Voltou para o Ceará, fascinado pelo encanto dos experimentos químicos. Uma de suas criações foi a "vaca mecânica" para a produção de leite de soja, disseminada em centenas de cidades brasileiras.

Testou motores com álcool, mas preferiu investigar melhor o poder de plantas como o babaçu. Em 1984, um Bandeirante, da Embraer, voou de São José dos Campos até Brasília, movido a bioquerosene, desenvolvido por Expedito -apesar do sucesso do vôo, o projeto foi arquivado pelos militares.
Foram necessários mais 20 anos para que levassem a sério sua experiência, agora em apreciação pelos americanos -certamente seria impossível se o inventor não tivesse com um de seus professores um menino de 12 anos, andando a pé pelo interior do Nordeste, com o sonho de aprender.

PS - O caso de José Parente mostra os caminhos para se evitar a marginalidade, gerando inventores e não criminosos -envolvimento familiar na vida dos filhos, culto ao empreendedorismo e reverência ao aprendizado. Nosso problema não é de maioridade penal, mas a de menoridade dos adultos."

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