4 de outubro de 2005

Miopia gerencial, emprego e carreira...

Depois de quase 20 anos de profissão, já ví todo tipo de gerencia. Das eficientes, passando pelas inúteis e chegando as infernais. Mas um fato comum liga todos os gerentes com que já trabalhei: miopia.

Não quero dizer que eu via coisas que o gerente não via! Pelo contrário. Alguns dos meus melhores gerentes conseguiam ver melhor do que eu através do fator de distorção da miopia. Eram safos, tinham capacidade de reação as surpresas que a miopia encobria.

Mas em maior ou menor grau, com maior ou menor capacidade de reação, a miopia estava sempre presente.

O problema é decorrência natural do envolvimento intenso com um problema ou conjunto de problemas. É natural que o imediato se coloque em proporção muito maior ao longo prazo e é aí que a miopia se nutre. De repente o que era futuro se torna presente e não há um plano. E se o gerente não for bom e não contar com uma equipe capaz, as coisas degringolam - talvez definitivamente.

Nada de novo pra quem trabalha 90% do tempo resolvendo problemas e encontrando soluções para ineficiências. Certo? É a vida...

Mas quando você começa a enxergar através da miopia melhor que o gerente, quando o cara se recusa a enxergar - e a ouvir!!! - fica muito difícil continuar acompanhando o trajeto.

Não se trata de querer dirigir o ônibus - eu reconheço muito bem as minhas características de control-freak e apesar de ser um esforço sobre-humano, na maior parte do tempo eu sou perfeitamente feliz em exercer meu papel de técnico e consultor, só - mas de não achar que o ônibus está indo pra onde nós, indivíduos, teriamos de ir.

Porque todo profissional tem de estar de olho sempre duas coisas, simultâneamente: emprego e carreira. A carreira é o longo prazo e o emprego é o imediato. Aqui não pode haver miopia. O sujeito tem de ter claro na sua cabeça (ou tão claro quanto possível) o que quer em termos de carreira. Ou pelo menos o que não quer. E constantemente ajustar o emprego a essa realidade.

Se o cara está perfeitamente contente em ter emprego, e só - na minha opinião ele poderá ser o melhor empregado do mundo, mas não se trata de um profissional. O profissional anseia pela carreira, pelo desafio; ele ambiciona o crescimento e a evolução dentro da carreira que escolheu.

Como um profissional, chega uma hora, por mais que se deseje continuar na rota cômoda, que é preciso saltar do ônibus. Reconhecer este momento é também um sinal de maturidade na carreira escolhida. Saltar do ônibus faz parte da rota da vida.

E, sei lá, talvez tomar um trem.

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