12 de setembro de 2008

Misantropo...

Misantropo: Alguém que desgosta da humanidade e evita a sociedade.
Já me chamaram de misantropo - mais de uma vez e nem sempre usando a palavra correta. Mas eu nunca aceitei o título. Meu problema não é a humanidade. A humanidade - como espécie - me fascina pelo que fizemos e pelo que fazemos, pelo que conquistamos e pelo que temos o potencial de conquistar. A humanidade é pura contradição: motivo de orgulho, de vergonha, e principalmente de espanto.

Acho que - como espécie - nos somos criaturas interessantes. A nossa adaptabilidade. A nossa curiosidade. Se eu fosse um visitante de outra espécie inteligente (não que eu esteja dizendo que eles existam) acho que a raça humana me fascinaria (e ao escrever isso, me vem a imagem do Doctor Who dizendo 'Brilliant!').

O que eu abomino é o indivíduo da nossa espécie. E para isso, ao que parece, não existe uma palavra específica. Não consigo achar no dicionário uma palavra que signifique: "nada contra a humanidade, mas o ser humano é uma merda".

Claro que não todos. Existiram e existem indivíduos da nossa espécie que são impossíveis de se desgostar. Pessoas que colocam o próximo antes de si próprias, pessoas que colocam o coletivo antes do individual, pessoas que representam o que há de mais nobre da humanidade.

Mas, no geral, individualmente, o ser humano é um lixo. Me incluo nessa definição, apesar de querer acreditar que na maioria das circunstâncias eu me provaria melhor que muitos dos meus semelhantes de quem tanto desgosto. Eu, pelo menos, luto contra as falhas de caráter que todo ser humano tem e que me causam tanto incomodo.

Intolerância, preconceito, falta de visão, preguiça (de agir e de pensar), irresponsabilidade, inconseqüência, egoísmo, desonestidade, incapacidade de cogitar o ponto de vista do próximo... São só algumas das falhas mais aviltantes que indivíduos da nossa espécie - novamente, de forma geral - são incapazes de corrigir e perpetuam através da (des)educação de seus filhos e netos.

Mas são falhas, para mim, intoleráveis. Eu convivo com as pessoas que chafurdam nessas falhas da melhor maneira que posso, mas me incomodam profundamente. Existem dias que eu tenho vontade de sumir, me isolar como um misantropo, e esquecer essa parcela da espécie que se recusa a progredir, que se esconde do próprio potencial, e que parece viver sem entender o que está acontecendo com eles e com quem convivem. Entender de verdade.

O que me incomoda mais, sem dúvida, é a burrice - fruto da preguiça de pensar, da intolerância e da incapacidade de se colocar no lugar dos outros. É, com certeza, a característica mais irritante com que convivo no meu dia a dia.

Não, não estou dizendo que todos com quem convivo são burros. Longe disso. Já convivi com pessoas que certamente eram muito mais inteligentes do que eu. Várias. Mas eu não me comportava como se fosse uma dádiva divina a humanidade, ou insistia em manter posições que comprovadamente não faziam sentido. Mais ainda: se eu não sabia do que estava falando, calava a boca e ouvia.

Ouvir é um talento. Ponderar antes de responder é um talento. Mas calar a boca é uma arte. A maioria das pessoas não ouve, não pondera, mas faz questão de responder. Calar? Impossível.

A melhor forma de lidar com esses indivíduos, me parece se tornar evidente a cada dia, é simplesmente suspender toda e qualquer possibilidade de iteração. Quanto menos contato com a idiotice reinante, melhor.

Como conseguir esse afastamento e continuar produtivo? Sinceramente não sei. O que tem tido algum efeito pra mim é minimizar as interações e evitar toda e qualquer tipo de polêmica. E a arte de calar a boca tem sido minha aliada.

Mas, insisto, meu afastamento é dos indivíduos - ou melhor - das falhas dos indivíduos.

A humanidade, nossa história como espécie, nossa futuro possível e até o provável, continuam me fascinando.

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