Cada vez que volto ao Brasil, diminui minha vontade de voltar no ano seguinte.
Não se trata de começar de novo o exercício de malhar o Brasil. Estou cansado de apontar os problemas. E, sinceramente, de que adianta? Eu posso apontar problemas e até propor soluções pelo resto da minha vida. Mas ninguém está, efetivamente, minimamente interessado no que tenho a dizer.
A cada visita volto pra casa um pouco mais deprimido com o Rio de Janeiro em particular e o Brasil como um todo. Usar o termo deprimido não é exagero, é fato. Me sinto sem energia só de ver o estado das coisas.
Dirigir, que já era um problema quando eu morava por aí, é um exercício de paciência franciscana. Não se vai a lugar nenhum nos horários de trânsito mais pesado, em menos de 2h. E nos horários de trânsito mais leve, os motoristas tentam compensar e estravazam toda a sua frustração numa fúria desmedida.
A divisão entre os que tem e os que não tem praticamente desaparece no Rio - diferente de São Paulo que isola os menos afortunados na periferia - e os que tem alguma coisa se esforçam, ao que parece com bastante sucesso, pra ignorar os que não tem nada. Enquanto isso os que não tem nada são açoitados com o poder aquisitivo que eles não tem a menor chance de alcançar e que provavelmente será inalcançavel pelos seus filhos e netos.
Hoje, enquanto dirigiamos num carro que muita gente não sonha em poder ter e ouviamos um CD da Elis, eu olhava para uma favela enorme e as crianças correndo descalças atrás de uma pipa avoada. E do túmulo Elis entoava a letra de "Maria, Maria":
De uma gente que ri quando deve chorarEu não sei se a sociedade está pior do que quando saí ou se eu estou menos tolerante a essa degradação num país que tem aspirações de longa data a ser uma nação importante no cenário mundial.
E não vive, apenas agüenta
Só sei que me dá uma tristeza infinita vir aqui e presenciar tudo isso.
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