Ontem, no rádio, um soldado americano relatava o resgate de uma menina de 6 anos e do irmão de 4 no Iraque. Eles assistiram a mãe e o pai serem mortos pelos insurgentes - de acordo com o soldado.
Chorei ouvindo o relato de como a menina acordava no meio da noite e chorava de dor (tinha sido alvejada com estilhaços de explosivos) e de desespero, clamando pela mãe.
Hoje, eu leio no Globo, que um menino de 6 anos foi arrastado pelas ruas do Rio e destroçado literalmente.
Tive de sair do meu escritório porque achei que fosse vomitar. Fiquei do lado de fora do prédio pensando em que tipo de criatura olha pra trás, vê uma criança sendo arrastada, provavelmente gritando em desespero, e acelera.
O ser humano é uma criatura capaz de atrocidades que eu, sinceramente, não consigo abarcar. Eu não consigo aceitar nem entender esse tipo de coisa.
Não é exclusividade do Brasil esse tipo de monstruosidade; só por isso menciono o caso Iraquiano. Mas claro que uma coisa que acontece na cidade da gente, no país da gente, é uma pancada surda no estômago.
6 anos. Esse menino nem começou a pensar em viver. E como os pais dessa criança vão acordar amanhã sem o filho? Eu ficaria louco. De desespero e de dor. Só de pensar que se eu ainda estivesse no Brasil isso poderia ter acontecido com a minha filha... Deus os ajude.
4Km e nem um policial? Estacionar um carro depois de assassinar brutalmente uma criança e sair caminhando tranquilamente?
Que mundo é esse?
A diferença maior entre as duas tragédias - a do Iraque e a do Rio - é que no caso da primeira o país está em guerra declarada.
No Rio vão chamar esse assassinato brutal de crime. E vão continuar tapando o sol com a peneira. Dizendo que tem jeito e que pode-se resolver o problema. Dizendo que o que aconteceu foi uma tragédia e que o combate ao crime vai ser aumentado, que forças policiais de outros estados se juntarão as do Rio, que a justiça será feita.
MENTIRA!
Tudo mentira!
Ninguém dá a mínima. As pessoas estão insensíveis para a realidade na qual estão imersas. Balançam a cabeça ou se indignam por 1 ou 2 dias, depois esquecem.
Mas os pais desse garoto não vão esquecer NUNCA.
A culpa é dos bandidos. Mas é também dos governantes. E da sociedade que insiste em colocar no poder os mesmos canalhas que não resolveram e não resolvem nada. Da sociedade que continua pagando os impostos pra sustentar essa corja que não cumpre o que promete ou sequer o seu dever.
Ódio! Desprezo! Só isso que eu consigo sentir!
Nunca senti tanta vergonha de ser carioca. Nunca senti tanta raiva de ser Brasileiro.
Mais uma criança morta! Mais um brasileiro virou estatística nessa guerra não declarada!
E nenhum governante tem o culhão de chamar a realidade brasileira pelo nome que ela merece.
GUERRA!
Estamos em guerra!
De um lado os bandidos que não respeitam nada, nem a vida de uma criança. Coadjuvados por policiais mal treinados, mal pagos, mal equipados e, em geral, desesperançados. Se garantindo na imobilidade do poder público graças a blindagem natural que o poder dá a governantes que estão acima do resto da população e não precisam se incomodar com o que sofremos. Misturados a uma classe pobre que não tem como reagir aos vizinhos, pois são mortos e nem menção num jornal recebem.
E, comprimidos entre os bandidos armados e os bandidos de terno, a classe média que restou vai sendo morta, esfolada, violentada; num ritmo frenético e com crescente virulência.
Porque não acontece uma revolta no Brasil, eu não sei. Porque nós não começamos a levar a classe política e aos extraordinariamente ricos um pouco do fel do dia a dia da classe média e da impotência da classe pobre; eu não sei.
O que falta acontecer? Um bandido desses detonar uma bomba nuclear num centro urbano?
8 de fevereiro de 2007
Guerras...
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2 comentários:
Tambem senti vontade de vomitar depois que li essa noticia horripilante e um sentimento imenso de tristeza tomou conta de mim por horas. Nao sou carioca, mas souy brasileira e pensei no meu sobrinho de 6 anos, e em todas as criancas e pessoas de bem, que trabalham, so querem viver sossegados. O Brasil esta virando uma Colombia, por causa das drogas e do descaso dos politicos e da sociedade em geral. Eh uma guerra civil, com toda certeza... :-(((
O torpor é global. Com a diferença que, em países como este Brasil, a coisa é tão banalizada que o Carnaval já solapou completamente a notícia, como bem previu. Como bem já sabíamos.
Lutar pela preservação de alguma consciência, humana e política, neste país é como tentar deter as ondas do mar a socos.
Mas não desisto fácil.
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