Sempre que o assunto de sair do Brasil vem a baila, é inevitável alguém levantar a bola de porque eu quis sair do Brasil... É bem possível que, se eu fizer uma busca aqui ou no antigo blog, eu já tenha tratado desse assunto.
O que me fez sair do Brasil, entretanto, é diferente do que me faz ficar fora do Brasil.
Era o final de 1998, minha filha com meses de vida, um pouco mais de ano e meio de casado, e eu estava num emprego que pagava muito bem mas para o qual eu tinha de, literalmente, me arrastar todos os dias - eu odiava o trabalho, a maioria das pessoas (vocês sabem que alguns de vocês moram no meu coração!), vivia preocupado com sonegação fiscal, e mais ainda com o futuro.
O fato é que minhas perspectivas profissionais se resumiam a encontrar outro emprego que pagasse similarmente bem e que trouxesse o mesmo tipo de aborrecimentos. Mudar de tecnologia talvez me desse maior alcance. Mas o tipo de trabalho seria o mesmo: consultor, desenvolvimento, dar luz a cegos, carregar projetos nas costas.
Comecei a pesquisar uma oportunidade no exterior pela vontade de experimentar alguma coisa diferente na minha vida. Mas, o pano de fundo era a busca por uma condição de vida mais segura. Principalmente na área financeira.
Eu acreditava - e pelo menos no caso dos EUA, de acordo com a minha experiência, eu tinha razão - que em termos de perspectivas profissionais as pessoas em outros países tinham uma estrutura e chances de um futuro com as quais não podiamos sonhar no Brasil.
Cismei com a Australia - inglês, clima quente, praias... E quando o mercado de trabalho lá se provou difícil de penetrar à época, resolvi fazer uma lista de países aceitáveis. Acabei numa lista curta de 3 países: Australia (minha obsessão), Espanha e EUA.
A Austrália e Espanha se provaram nações complicadas de prospectar emprego - pelo menos pra mim. Na primeira o mercado de trabalho era bem menor do que eu pensava, e minha experiência profissional não era o que eles procuravam. Na segunda foram bem claros comigo: sem falar espanhol fluentemente, não havia a menor chance. Portuñol não valia.
Os EUA, por outro lado, viviam o boom da Bolha da Internet. Contratavam desbragadamente dentro e fora do país. E muito da tecnologia que estava sendo removida em favor de websites e serviços web, era o tipo de tecnologia com a qual eu tinha experiência.
Levou um ano, mas eu fiz algumas entrevistas telefônicas, investi em uma passagem para os EUA para fazer algumas entrevistas pessoais, e ao final de 1999 eu tinha uma oferta de emprego.
Aceitei.
Financeiramente, à época, eu estava trocando seis por meia dúzia. Mas minha crença era que, no tempo certo, ganhando em moeda forte e numa economia estável, eu e minha família estariamos melhores.
Note-se que todas as minhas considerações antes de decidir viver no exterior tinham pouco ou nada haver com a realidade brasileira - descontado, claro, o ambiente profissional e financeiro. Meu interesse era mais grana, estabilidade financeira, talvez um certo desafio profissional; mais nada.
Claro que eu estava frustrado e até, relativamente, assustado com determinadas coisas acontecendo no Brasil. Houveram até situações de risco acontecendo comigo, como o tiroteio em pleno centro da cidade do Rio de Janeiro alguns anos antes - onde tive que me jogar no chão de uma banca de jornais para me proteger. Mas eu nunca cogitei sair do Brasil por causa disso.
Como a esmagadora maioria dos imigrantes que vem para os EUA, a motivação era grana e perspectivas.
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