5 de julho de 2009

Fim de semana perfeito...

Sexta-feira foi ponto facultativo - e como a Bolsa de NY fechou, a empresa pra que trabalho fechou também. Aproveitei o dia pra pintar a sala aqui de casa.


Sim, você leu direito. Aqui quem pinta a parede é o dono da casa. Ou, tendo a grana, paga-se uma fortuna pra alguém fazer um serviço fácil e que é até uma distração. Unha de fome que sou, prefiro fazer eu mesmo. Mas o mote do post não é esse...

Sábado eu não fiz NADA. N-A-D-A. Li um pouco. Dormi. Ajudei (pouco) a minha esposa com a faxina da casa. Vi muito pouca TV. Comi. Dormi. Ganhei vários beijos da minha filha na piscina. Dormi. Acho que jogamos um pouco de Nintendo Wii... ou foi na Sexta a noite? Sei lá.

Domingo acordei tarde, fui passear com o cachorro na companhia da minha filha e fizemos um churrasco improvisado na casa de uns amigos. Mais beijos da minha filha na piscina. Já em casa consegui terminar o story mode do Mario Party 8 no Nintendo DS.

Ou seja: passei tempo com a minha família. Descansei. E joguei video-games.

A vida poderia ser bem pior do que isso...

E eu tenha extrema dificuldade em imaginar vida muito melhor!

17 de março de 2009

Perspectiva

Outro post que ficou estagnado por meses...

Há uns dois anos, numa conversa de fim de dia, um colega me pediu para resumir minha filosofia de trabalho (que ele conhecia de acompanhar meu sistema de comportamento obsessivo no dia a dia) pra um rapaz bem mais novo que nós, recém saído da faculdade. Eu disse algo nas linhas de:

Em qualquer situação, eu espero que o pior aconteça, me preparo pro pior, imagino qual deve ser minha reação no caso (bastante provável) do pior acontecer, e planejo detalhes da reação que devo ter nas pequenas variações admissíveis do pior acontecimento. Aí, quando o pior acontece eu estou preparado, e se o pior não acontece - o que é raro - eu fico menos deprimido e até levemente satisfeito.
A reação do rapaz foi meio chocante pra mim...

Ele disse: "Isso é horrível!" com uma expressão de pena tão visível que até senti uma ponta de preocupação pelo MEU estado mental.

Mas o tempo passou e eu não pensei mais nisso. Até que há uns dois dias (nota: comecei a escrever este post em Dezembro...) um colega de Wisconsin - um dos caras mais inteligentes com quem já trabalhei e por quem eu tenho o maior respeito profissional e pessoal - passou por aqui pra nos visitar e durante a conversa disse algo como:
Eu expliquei para [o interlocutor da história] que com você reclamar não era nem tanto um objetivo, mas a maneira de você se expressar sobre quase tudo.
Eu não deixei transparecer, mas o comentário dele fez uma imediata conexão com a reação do rapaz da história original. Parece que não só eu sou um pessimista digno de pena, mas um reclamador profissional.

O fato é que sou pragmático demais pra ser otimista. Esperar o melhor, acreditar na (ou pior, depender da) sorte, viver esperando que o amanhã vai ser melhor não combina com a característica prática que define, em grande parte, a minha personalidade. Qualquer pessoa prática prefere estar preparada, e preparação exige esse exercício de "what if?" e essa habilidade de imaginar desfechos negativos.

Esse traço de personalidade somado ao fato de que, no fundo, nossa profissão é a de encontrar ineficiências e projetar soluções em software para redimí-las, certamente deixa muito vivo no dia a dia as mazelas da profissão - colegas despreparados, software pré-existente mal pensado ou defasado, chefes e colegas que não entendem o que nós fazemos, constante necessidade de atualização profissional beirando a histeria, ferramentas de trabalho problemáticas ou hiper-complexas, etc. Será anormal ter uma visão crítica e até negativa de uma profissão quando realmente a conhecemos a fundo? Será estranho reclamar quando a experiência profissional se acumula a ponto de que nada mais é efetivamente novo?

Além de tudo, aqui nos EUA muito da minha personalidade normal acaba sacudida pelo quebra-molas mental (por menor que seja hoje em dia, e não é tão pequeno assim) que é a segunda língua. Sem contar que determinados comportamentos, que no Brasil definem o caráter de uma pessoa, são inaceitáveis aqui.

É possível que minha experiência de vida, e esses limites mentais e sociais afetem a imagem que eu projeto mais do que imaginava.

E é possível - não, é certo - que eu simplesmente deixe muito a flor da pele as minhas frustrações.

A solução ideal para frustrações é simples - não as tenha. Trace objetivos realistas e alcançáveis. Se o objetivo depende só de você e nada mais, não há frustração envolvida. Como é quase impossível ter objetivos que dependam somente de nós (sem contato com outras pessoas ou ferramentas que possam interromper ou atrasar o alcance do objetivo em questão), é quase impossível não lidar com frustrações.

Eu sei qual é o paliativo que funciona: perspectiva.

Na porta da minha sala eu tenho um cartão que diz que
quando o trabalho se torna opressivo, lembre-se que você vai morrer.
Parece extremo, e é lógico que o autor escreveu o cartão com uma intenção humorística, mas a verdade é que a perspectiva que a mensagem traz é eficaz em controlar minhas frustrações no trabalho.

Perspectiva é isso: lembrar que o que é realmente importante.

Claro que trabalhar é importante e que ganhar o seu sustento trabalhando da melhor forma possível é o mínimo que se espera de um profissional.

Mas se eu for removido do trabalho, a empresa continua (como continuaram todas as que deixei por oportunidades melhores). Mudar de país não muda o que você deixou, nem o adotivo. A vida continua, com ou sem você.

Se você faltasse, o que seria realmente afetado?

Isso é importante.

O resto é resto.

11 de março de 2009

Um artigo interessante...

Li esse artigo do Joel Spolsky ainda em Janeiro. E estou desde então com ele na cabeça e sem tempo pra blogar.

O artigo é sobre como recompensar performance, psicologia, e o impacto de ambas as coisas no "bottom-line" das empresas. Vale a pena ler no original, mas eis aqui a tradução porca do google...

Eu acho que o que o Joel esquece é que, usualmente, as pessoas de melhor performance são competitivas por natureza. Não importa se elas estão costurando roupas para cachorros, produzindo código na linguagem de última geração, ou trabalhando com atendimento ao consumidor. Ignorar essa característica com "todo mundo contribui e não seria justo julgar as pessoas de forma diferente" é jogar contra o caráter mais básico das pessoas de melhor performance - alijando-os justamente do sentimento de que sua contribuição é bem recebida.

Eu concordo que a maioria das pessoas tem o hábito de se julgar mais competentes do que efetivamente são, com raras exceções. É o efeito Dunning-Kruger que já mencionei aqui de outras vezes. Todos sofremos esse efeito em algum aspecto das nossas vidas. Mas não seria o papel de um bom gerente - como o Joel Spolsky é - justamente identificar quem são os diamantes e quem são pedaços de carvão na sua equipe? E mais: manter contentes os diamantes a qualquer custo? Porque quem quer uma equipe de pessoas regulares?

Ele não discute no artigo como as pessoas respondem de formas diferentes a diferentes recompensas... Eu gostaria que ele tivesse investido um pouco nisso. Algumas pessoas só precisam ouvir um cumprimento de vez em quando, outras precisam ouvir cumprimentos o tempo inteiro; e algumas pouco se importam com cumprimentos e preferem a parte delas em progressão corporativa ou o bom e velho dinheiro vivo.


No fim das contas, em seu artigo, Joel está tentando achar uma solução de tamanho único pra um problema que tem haver com psicologia individual e observação. Ele devia estar se perguntando "O que eu poderia ter oferecido ao Noah - individualmente (se ele era realmente tão bom...) - que teria feito com que ele nos escolhesse ao invés do Google?"

A resposta poderia ser - nada! Ele escolheria o Google de qualquer maneira, ponto.

Mas que perguntas o Joel tinha de se fazer para que a resposta pudesse ser diferente?

16 de fevereiro de 2009

Antes de comprar um pacote de CRM...

Antes de comprar um pacote de CRM para sua empresa, faça o seguinte:

a) Exija uma instalação de demo sem obrigação de compra posterior

b) Teste não só a experiência do usuário, mas o quão fácil é modificar, extender e criar novos workflows

c) Desconfie de pacotes que tem uma versão web, mas que exigem a versão não web para funcionar - isso quer dizer que eles jogaram uma série de serviços web em cima de uma infraestrutura potencialmente antiquada e inflexível

d) Me pergunte da minha experiência com consultores que orientam na escolha de um pacote de CRM

e) Me pergunte da minha experiência com o provedor de CRM que minha empresa contratou - e que não posso divulgar em foro público, mas que terei prazer em discutir individualmente

Vão te dizer que a maior barreira para o sucesso de uma implementação CRM é adoção por parte dos usuários. Pode ser. Mas na minha experiência a capacidade de adaptação RÁPIDA as necessidades dos usuários é o ponto crítico da adoção do pacote. E pra responder rapidamente na mudança dos requisitos, é preciso uma infraestrutura técnica adequada.

Ou seja: faça o seu dever de casa...

20 de janeiro de 2009

Hail to the chief...

Pela primeira vez para Barack Obama, as 12:06, foi tocada "Hail to the chief" - a marcha oficial do Presidente dos Estados Unidos.

Começa aqui um momento histórico para os EUA - um país que até pouco tempo proibia o casamento interracial e ainda tem bolsões de racismo declarado e violento. Foi eleito e empossado um homem, aparentemente competente, inteligente e loquaz, independente da cor da sua pele. A mídia e os discursos da posse fizeram questão de enfatizar a cor da sua pele, mas o importante é justamente o contrário - a cor da sua pele não importou, e isso sim é um passo na direção certa. Para a humanidade.

O país parou para assistir a posse. A posse anterior que vivi nos EUA (Clinton para Bush) não chegou perto dessa. Milhares de pessoas em Washington enfrentaram o frio para prestigiar a cerimônia. Em Nova Iorque uma turba parou em Times Square. Escolas, como a da minha filha, pararam para ouvir o primeiro discurso como presidente em exercício.

O discurso foi honesto. Dividiu a culpa pelas adversidades atuais entre governo, empresas e indivíduos que falharam em fazer as escolhas corretas, e apertar o cinto. Obama insistiu que os americanos são os guardIões do legado de uma America livre e justa, fundada em princípios que jamais devem ser abandonados. Eu acho que os americanos exageram nesse sentimento de líder do mundo (não sei se o resto do mundo, conscientemente, demanda essa liderança)...

Claro que existem expectativas enormes. Claro que o momento é dos mais delicados para os EUA e para o mundo.

Só resta aos americanos, e - feliz ou infelizmente - ao mundo interconectado em que vivemos, esperar que as expectativas sejam recompensadas com gradual sucesso. Não para o bem de Obama, mas para o bem de todos nós.

Que clareza de pensamento, liberdade de expressão, e verdade tinjam o governo do novo presidente.

7 de janeiro de 2009

Encerrada a temporada de fim de ano

Terminou hoje a temporada de fim de ano - pelo menos pra nós aqui em casa.

Tivemos conosco meus sogros, cunhada e família. No total 6 pessoas a mais na casa. Por mais ou menos 30 dias. A casa é grande, camas existem, e é sempre bom estar com quem a gente gosta...

Meu concunhado é gente boa e temos muitos interesses comuns, minha cunhada melhorou muito e está quase pra ser promovida de bruxa insuportável a bruxa apenas (mas tem de se esforçar um pouco mais - lasanha com mais molho ajudará o caso dela), meus sogros são divertidos de ter em volta como alvo das minhas inúmeras (e insuportáveis) brincadeiras, muitas das quais minha sogra acredita piamente serem a sério. Eu deixo ela acreditar porque pra mim é ainda mais engraçado vê-la fazer bico porque a chamei de fofoqueira ou porque "deixei claro" gostar do meu sogro e não dela. Ah, a injúria maior esse ano foi dizer que ela perdeu a mão pra cozinhar. Quem mandou economizar bacalhau?

Mas bom mesmo foi ter as crianças - desculpem... a criança e a adolescente - aqui conosco. A distância não permite que os vejamos tanto quanto gostaríamos, então foi sensacional conviver com meu sobrinho de 7 anos e minha sobrinha (ainda que não de sangue, como ela fez questão de deixar claro) de 13 anos por um tempo um pouco mais longo.

O garoto é, de longe o moleque mais gente boa do mundo, mesmo tendo um constante excesso de energia que chega a assustar um pouco. E que moleque engraçado... A principio ele ficou meio zangado comigo constantemente chamando ele de mané, zé, pereba (ele perdeu váaaaaarias vezes no Mario Kart - é pereba!), etc; mas depois de um tempo ele mesmo perdia um jogo e gritava "Eu sou um pereba!!!" e quando ganhava fazia uma dança da vitoria que só assistindo pra entender o nível da comédia.

A menina está uma moça. Bonita, simpática (bom, tão simpática quando se pode esperar de uma adolescente - momentos de simpatia entremeados por momentos de "eu odeio..."), concentrada (lia horas a fio), e inteligente. Também ficou revoltada com a minha incansável perseguição (porque, como dizem todos aqui na casa eu "não tenho limites") e piadas. Mas acho que com o tempo se tocou que era perda de tempo se aborrecer... Se não se tocou, na próxima vez que estivermos juntos eu continuo tentando convencê-la que é perda de tempo enquanto sacaneio ela um pouco mais. Eu espero que ela tenha captado a mensagem sobre raciocínio crítico - que sempre devemos questionar as "verdades" que nos apresentam e ter certeza que avaliamos as questões sobre todos os pontos de visto (resultado de uma conversa a caminho do Kennedy Space Center da NASA) - se ela sacar isso agora, vai chegar a idade adulta muito mais preparada que seus pares. Um pouco mais cínica também...

São meus sobrinhos (não de sangue no caso dela) favoritos até meu irmão ter filhos. ;-)

Parece que é só alegria - mas é claro que reunir tanta gente, com personalidades diferentes, rotinas diferentes, interesses diferentes, debaixo de um teto só tem seus revezes. A casa estava ultra-lotada, as pessoas esbarram uma nas outras e querem coisas diferentes das TVs, videogames, computadores, etc. E a nossa rotina - a rotina da família que não está de férias e tem de continuar tocando o seu barco enquanto tentando dar a atenção devida aos hospedes - enlouquece completamente. Estou morto de cansado com atividades em todos os fins de semana e o trabalho durante semana. Mas ninguém se esfaqueou, apesar de em alguns momentos eu perceber que a minha "falta de limites" ia fazer com que alguém me mandasse a merda (o que simplesmente recompensaria meu esforço... prometo conseguir em vezes próximas!), ou a constante ruptura das nossas rotinas (estou ficando velho, preciso das minhas rotinas!) me fizessem querer sumir por uns 5 dias.

Meus pais e meu irmão este ano não vieram - e nem poderiam, a casa simplesmente não comportaria mais ninguém. Senti uma falta danada deles - o primeiro natal da minha vida sem meus pais, acho eu - mas era uma impossibilidade física. A Andréa tem passado os natais com a minha família desde que casamos, era justo que passássemos um natal com a família dela.

Agora é consertar tudo que a minha cunhada quebrou na casa, e voltar a nossa querida rotina.

Dentre mortos e feridos, salvaram-se quase todos.

Feliz 2009.

26 de dezembro de 2008

E minha sobrinha achou "maneiro!" eu ter um blog...

Finalmente eu consegui ser um tio "cool".

Só pra registrar...

Nintendo wii...

Finalmente eu capitulei e comprei um Nintendo Wii para a minha filha. Ela vinha pedindo a mais de um ano. E eu enrolando, na vã esperança de que algum jogo muito bacana fosse aparecer pro PS3 que me convencesse a comprá-lo apesar do preço que eu considero abusivo. Mas, nada me chamou a atenção, e comprei o Wii para ela.

Minhas suspeitas se confirmaram...

Não é um sistema dos mais agradáveis para jogadores acostumados com video-games. Os jogos são... infantis... os controles - ainda que engenhosos - não tem precisão... pra quem está acostumado a medir milimetricamente o próximo pulo ou próximo golpe num dos video-games do PS2 ou do PC, é uma decepção.

Minha filha de 10 anos gostou. Meu sobrinho de 7 anos, visitando-nos, também. Mas eu acho que o fator novidade vai se acabar muito rápido. E as crianças não vão ter mais interesse. O tempo dirá.

Um fator, meramente, torna o jogo atraente: minha esposa - que de gamer nunca teve nada - está jogando Wii tênis com a minha filha, meu sobrinho e meu cunhado. E jogando relativamente bem e se divertindo no processo.

O Wii é pra esse segmento da população: non-gamers. O público alvo é a pessoa que nunca realmente se interessou por ficar horas aprendendo trezentas combinações diferentes de botões e movimentos de alavanca, mas que agora meramente apontando um controle remoto pra tela ou o sacudindo pra lá e pra cá, tem condição de competir com o mais experiente gamer da casa - e até ter a chance (infinitesimal, porquê já peguei a manha dos controles) de ganhar as vezes.

1 de dezembro de 2008

Gerência e administração

O Joel Spolsky é um dos escritores sobre gerência de times técnicos de que mais gosto. Lendo seus artigos no Joel On Software, eu fico tentado a procurar emprego da FogCreek Software.

O mais recente artigo dele na revista Inc. é sobre liderança, gerência e administração. E é, em síntese, o que eu venho defendendo há anos: que a função mais importante da empresa deveria ser aquela que efetivamente produz algo, e não gerentes de nível médio ou alto.

Na última empresa que trabalhei - a empresa que me trouxe para os EUA e que não existe mais no seu formato do final dos anos 90, adquirida por uma empresa muito maior - a coisa funcionava assim: a gerência perguntava o que podia fazer para remover obstáculos para os engenheiros de software produzirem - e saia do caminho. A empresa tinha três princípios que guiavam a todos os funcionários:

  • Nós abraçamos os objetivos de nossos clientes
  • Nós confiamos e damos suporte ao julgamento individual
  • Nós somos responsáveis junto a e por um ao outro
Seguindo estes princípios, se eu julgasse que uma decisão de um gerente era incompatível com os objetivos de meu cliente (externo ou interno), eu tinha liberdade de modificar a decisão e de comunicar ao gerente o que havia feito. Era um ambiente extremamente pró-mérito. Quanto mais experiência com a minha capacidade de comunicação e técnica os gerentes tinham, menos eles se envolviam. Quanto mais experiência eu tinha com a capacidade de um gerente de tomar boas decisões ou prover sugestões úteis, mais peso a palavra dele tinha comigo. Não era um ambiente que alimentava pessoas que desejavam se encostar ou fazer um trabalho de qualquer maneira... Os técnicos e gerentes que não se adaptavam acabavam saindo por pura incompatibilidade com os princípios da empresa.

O que o artigo de Spolsky sugere é, na minha opinião, um passo além. Ele prega que gerentes deveriam realmente ser chamados de administradores, e serem encarados não como superiores hierárquicos aos "techies", mas como uma equipe de suporte que tem de conquistar a confiança do time técnico - talvez até mostrando serem capazes de fazer o que a equipe técnica faz. Claro, isso numa empresa onde os técnicos são os geradores do produto/serviço final.

Nas palavras dele, ele quer que a empresa dele seja
... um lugar onde autoridade e respeito são conquistados e não concedidos. Um lugar onde a gerência é meramente uma função administrativa - e nem mesmo particularmente glamorosa.
Se a maioria das empresas entendesse que é isso que os técnicos, principalmente os técnicos que estão produzindo o ganha-pão da empresa, mais querem; a qualidade dos produtos e serviços aumentaria vertiginosamente.

Vale a pena acompanhar o blog de Spolsky.

5 de novembro de 2008

O mais importante da eleição de Obama...

O mais importante da eleição de Barack Obama como o quadragésimo quarto presidente dos Estados Unidos, não é o fato de ele ter sido eleito, ou o fato dele ser negro, ou mesmo o fato de ele ser democrata... E quem se apega à ideologia de direita ou de esquerda pra denegrir ou comemorar a eleição, está sofrendo de uma profunda ilusão sobre o que é importante.

O primeiro fato verdadeiramente importante: uma nova geração de eleitores, de todas as raças e idades, votou pela primeira vez. A campanha de Obama os levou as urnas. Isso pode ser o início de um maior envolvimento popular no processo eleitoral americano que tem a chance de salvaguardar os EUA e o mundo de fatos como os ocorridos nas duas últimas eleições presidenciais locais - com toda a roubalheira e dúvidas que elas geraram, além da eleição de um incompetente crônico. Quanto mais envolvidos com o processo eleitoral, maior a chance da população votar bem, escolher melhor, e eleger gente competente. Ou, pelo menos, gente menos incompetente.

O segundo fato verdadeiramente importante: contribuições pequenas (indivíduos) e grandes (grupos de interesse) para a campanha quase que par a par. Na maioria dos casos até aqui, os grupos de interesse deste ou daquele setor eram os maiores contribuintes para os fundos de campanha de um candidato. Ao que parece não foi o caso com Obama que coletou muito dinheiro de indivíduos - contribuições pequenas mas numa quantidade nunca antes vista. Um político eleito com o dinheiro de grupos de interesse e que pretenda se reeleger terá de atender aos interesses representados por tais grupos - ou não terá dinheiro para a campanha seguinte. E um político eleito por donativos da população em igual proporção aos dos grupos de interesse?

Pra mim esse segundo ponto é o mais interessante e o que vou acompanhar com maior atenção. Existe a possibilidade de, pela primeira vez em muito tempo, a população ter um peso tão grande quando os grupos de interesse. Ou pelo menos bem maior do que teve até aqui.

É possível que essa organização que a campanha de Obama criou se torne um modelo de envolvimento político da sociedade e de financiamento de campanhas que tem a chance de efetivamente transformar o país. Mais do que 4 anos de governo por um presidente - por melhor que ele seja - poderia fazer.

Parabéns a Obama pela eleição, claro.

Mas acho que o caminho que levou a sua eleição é muito mais motivo para agradecer do que sua eleição em si.

Que ele, a partir de Janeiro, governe bem. Se ele ouvir, como prometeu, já será um avanço indescritível sobre os últimos 8 anos de administração pública nos EUA.

E que os Republicanos revejam seu papel, seus princípios e voltem a ser o partido que precisam ser.

Mas sem esse partidarismo exagerado que ninguém agüenta mais...

27 de outubro de 2008

A medida do dano...

Eis a prova do quanto os oito anos de administração W.Bush danificaram a imagem dos Estados Unidos e, principalmente, do partido Republicano não só nos EUA mas no mundo inteiro.

O iftheworldcouldvote.com é um site que simula o que aconteceria se o mundo inteiro pudesse votar nas eleições americanas. O resultado é avassaladoramente pró Obama.

E daí? O que muda nas eleições por causa disso? Nada.

Mas é um interessante experimento. 16 mil votos do Brasil, 80% favoráveis a Obama. 18 mil votos da Austrália, 90% favoráveis a Obama. 41 mil votos do Canadá, 81% favoráveis a Obama. 20 mil da Finlândia e 10 mil da França, ambos mais de 90% favoráveis a Obama. E não são só as nações grandes ou ricas. Cuba, com 84 votos, é 80% favorável a Obama.

O único país claramente favorável a McCain é a Macedonia, com 439 votos e 87% deles favoráveis ao McCain. E na linha divisória a Albania, com 56% dos seus 23 votos pró McCain, e - surpresa - a Venezuela é quase pro-McCain, com 47% dos 705 votos indo para o candidato Republicano.

O dano a imagem do país e do partido que a atual administração causou ainda vai durar quanto tempo?

Porque, sejamos sinceros, quem conhece a plataforma dos candidatos? O que Obama representa efetivamente? E McCain? A galera da Macedonia é tão antenada com a plataforma Republicana? Ou que tal o pessoal da França - será que eles entendem efetivamente toda a nuance do partido Democrata e a plataforma de Obama?

Seja lá quem for eleito, as expectativas do mundo inteiro para os EUA são enormes.

Será possível atendê-las?

23 de outubro de 2008

Desenvolvedores e comunicadores...

Não, não é mais um dos meus inúmeros discursos contra a incompetência. Ainda que ultimamente eu tenha estado exposto a um grau enorme de incompetência e preguiça e me aborrecido intensamente com isso. Problema meu - já que tenho perfeita noção de que não posso mudar os outros, só a mim mesmo.

Ando pensando em como muito do que eu faço - já há algum tempo - tem a ver com comunicar as reais necessidades de um produto ou projeto não só para os usuários (que pensam saber o que precisam, mas confundem o que que querem com o que precisam) mas para o grupo interessado como um todo, incluindo gerência e até não usuários que vão se beneficiar com os resultados do projeto (aqui nos EUA, a palavra para definir esse grupo amplo é "stakeholders").

E não se trata só de comunicar, mas também de justificar, conseguir aprovação, mudar os objetivos, e até mesmo provar que o projeto não é necessário ou tem de ser completamente diferente.

É possível que um desenvolvedor esteja somente preocupado com código, com técnica, com o design da solução. Eu trabalhei com desenvolvedores que só queriam se preocupar com a parte técnica e nada mais. Alguns me diziam que "não é da minha conta, eu só faço o que mandam" e outros me diziam "eu não gosto de me envolver na política da coisa".

Claro, cada um com seu cada um.

Mas o que é mais útil para os seus clientes (internos ou externos)? Um desenvolvedor especialista em produzir código - mas que não avalia se o que está sendo produzido é efetivo ou que não se pronuncia quando sabe que o resultado não vai ser o pretendido - ou um desenvolvedor que tem uma visão mais ampla e que é capaz de apresentar problemas de uma forma que os outros envolvidos consigam compreender?

Quantas vezes eu não participei de reuniões onde os desenvolvedores estavam visivelmente frustrados por não conseguir convencer os usuários? Ou os usuários reclamavam que os desenvolvedores não estavam interessados em resolver o problema? Essa disfunção entre o técnico e o negócio é fatal para qualquer projeto. Como evitá-la?

Marketing...

Eu sei que muitos desenvolvedores não tem a melhor opinião dos profissionais de vendas ou das equipes de marketing. Mas temos algo a aprender com eles. Não é o como se comportar ou como escrever. Mas o como fazer as pessoas, os "stakeholders", entenderem o que estamos dizendo. Vender nosso ponto de vista.

Pra nos fazermos entender temos de ser mais do que criadores de soluções técnicas ou analistas de negócio - temos de ser comunicadores eficazes. E isso é um talento a parte. Mas que pode ser desenvolvido ou aprimorado.

Ser um desenvolvedor eficiente certamente foi o que me permitiu alcançar todos os empregos que eu quis. Mas ser um comunicador eficaz foi o que me garantiu não só mantê-los, mas ser tremendamente útil aos projetos como uma ponte entre técnicos e não técnicos.

Meus parcos conhecimentos de Marketing vieram de meio curso de pós graduação em Marketing da ESPM - tive de parar porque viajava demais a trabalho. E muita leitura sobre como ser um consultor (que é o que eu sou até hoje, ainda que esteja trabalhando para um cliente só, como consultor interno, e ainda que os outros na empresam não pensem em mim como consultor).

Não se trata de falar bem, ou conhecer o problema, mas de alcançar a audiência. Fazer com que eles não só vejam o seu ponto de vista, mas se entusiasmem por ele. Se possível fazer com que eles pensem que a idéia, o raciocínio, é deles - ouvintes.

Não é fácil, mas torna você um profissional mais completo e mais útil.

Correção no uso da língua e emprego no exterior...

Uma coisa que me impressiona é como escrever bem é sub-valorizado pela maioria das pessoas. Não que eu ache que tenhamos de ser todos profissionais da língua escrita; eu não sou e tenho as mesmas dificuldades que todo mundo. Mas conseguir expressar em texto pensamentos de forma ordenada e coerente é o mínimo que se espera de uma pessoa que tenha tido acesso a um mínimo de educação.

Coerência e clareza tem a ver também com a audiência. Não há nada demais em escrever em acrônimos e gírias se o público alvo entende essa linguagem. Eu escrevo aqui para um público genérico que fala português, e tento achar um meio termo onde todos as tribos possam me entender. Meu vocabulário técnico é também orientado ao profissional e raras vezes eu escrevo para o leigo.

Mas, de qualquer maneira, escrevo para ser entendido. Tento compor o texto com o objetivo de ser claro para os falantes de português de uma forma geral.

Em função dos meus posts(1 e 2) sobre trabalhar no exterior, eu comecei a receber uma enxurrada de currículos e pedidos de mais informações. Não me incomodo e tento responder a todos, numa boa, sendo o mais útil e proátivo possível. Mas fico impressionado com como as pessoas - e digo isto de forma construtiva, não estou sacaneando ninguém - escrevem mal.

Se você vai mandar um currículo em inglês, o mínimo que se espera é que ele tenha sido, pelo menos, passado por um corretor ortográfico! Não é pedir muito e não custa, literalmente, nada. Mas o ideal mesmo é que você passe o texto por alguém que possa corrigir e te dar a certeza de que o texto está correto.

Um exemplo é o de um músico que colocou seu resume no MySpace recentemente... O cara me parece ser um músico de mão cheia, mas o texto onde ele descreve sua arte e sua experiência é praticamente Engrish ao invés de English! Coisas como: "Years 90" ao invés de "90s", "incentivated" ao invés de "incentivized" (mas o mais comum é dizer motivated), "criates" ao invés de "creates"... e por aí vai.

Pode parecer que a Web é um espaço mais informal e que não há necessidade de tanta preocupação com correção absoluta, mas se o seu interlocutor não entende você no papel (ou no caso, na tela), ele(a) pode concluir que será ainda pior em pessoa. E lá se vai uma boa oportunidade.

Você pode tropeçar um pouco no uso da língua - isso é normal com qualquer pessoa que não é nativa (e com alguns nativos também). Mas o esforço tem de ser visível. A desculpa de que o inglês (ou japonês, ou espanhol) tá enferrujado só vai te carregar até um certo ponto.

Quando eu estava fazendo entrevistas para vir para os EUA - a maioria por telefone - uma das empresas lamentou que eu não estivesse no país para fazer uma entrevista pessoal. Eu imediatamente disse que estava indo para os EUA para fazer algumas entrevistas pessoais em um mês e que se eles quisessem poderiamos conversar. Eles aceitaram. E daí eu, que não tinha NADA em vista, comprei a passagem para os EUA (investimento número 1) e busquei outras empresas interessadas em me entrevistar no mesmo período! Reservei hotéis nas cidades onde eu havia conseguido entrevistas (investimento número 2) e, já de volta ao Brasil, mandei e-mails agradecendo a oportunidade a todas as empresas. A oportunidade se apresentou.

O parágrafo anterior é pra poder dizer o seguinte: você não vai conseguir uma oportunidade se não estiver disposto a investir em você.

Contrate um tradutor, contrate uma pessoa experiênte em traduzir currículos para o país alvo, comece uma lista de empregadores em potencial, invista em um placement professional no país alvo.

Emprego não cai do céu em país nenhum.

Vá batalhar.

E eu continuo aqui a disposição no que puder ser útil...

15 de outubro de 2008

Uma América mais disciplinada...

Fareed Zacharia é um pensador (por profissão jornalista, mas tão mais que isso...), na minha opinião, brilhante. Neste artigo da Newsweek ele argumenta que a crise americana é também uma oportunidade de um recomeço mais sensato.

Artigo em inglês aqui.

Tradução porca do google aqui.

11 de outubro de 2008

Mudando o tamanho da janela do Safari em um dois clicks

Uma das coisas que o web developer plugin para o Firefox faz por mim que o Safari não faz é mudar o tamanho da janela do browser para alguns tamanhos úteis - 800x600, 1024x768, e meu tamanho preferido (que varia de acordo com que tamanho de monitor estou usando).

Então eu resolvi usar javascript e a bookmark bar do Safari pra simular o efeito...

Eu criei uma pasta no bookmark bar clicando com o botão direito na mesma e então digitei o seguinte no campo de endereço:

javascript:self.resizeTo(1024,768);
e arrastei essa URI para a recém criada pasta na bookmark bar. Repeti o processo para os outros tamanhos que me interessavam.

O resultado é esse:




Update 1: Sim, sim... desculpem... dois clicks!

Update 2: E para fazer o browser assumir o tamanho de tela cheia, use:
javascript:self.resizeTo(screen.availWidth,screen.availHeight);

O que é melhor para o Brasil?

As eleições presidenciais americanas, marcadas para 4 de novembro de 2008, estão na cabeça de milhões no mundo inteiro.

"O que é melhor para o Brasil?" é a pergunta mais freqüente que eu recebo.

De acordo com Charles Shapiro, do Departamento de Estado Americano: "A política direcionada a América Latina e o Caribe será mantida nos mesmos parâmetros seguido pelos presidentes americanos nos últimos 30 anos" seja lá quem for eleito.

Ou seja: esperem mais do mesmo. É minha opinião pessoal também. No cenário mundial a América Latina é muito pouco importante para os EUA - apesar de serem fonte de muito do que se consome aqui. Os EUA sumariamente ignoram a região.

"O que é melhor para os EUA?" ninguém pergunta... Talvez por que o sentimento anti-americano no Brasil (e no mundo) hoje em dia seja tão aguçado.

Os que votam em John McCain insistem que Obama vai aumentar os impostos para os ricos, o que vai fazer com que investimentos - inclusive em novas empresas - diminuam. Tenho dificuldade em aceitar esse argumento... Os últimos 8 anos foram exatamente de diminuir impostos pra essa parcela da população e não sei se os resultados foram os esperados. 


Os que votam em Obama insistem que McCain vai continuar as políticas de governo dos últimos 8 anos - inclusive um princípio belicista e anti-diplomacia com o qual não concordo em absoluto.

Na balança, ao que parece, Obama pode ser uma melhor opção pra classe média - onde eu ainda me encontro apesar da crise. 

Se a política econômica que ele propõe vai anular os potenciais investimentos da classe alta?

O tempo dirá.

O dia que voltei a usar o Safari...

Desde que adotei o mac, me recusei a usar o Safari - browser da Apple.


Meu problema com ele, a princípio, era a falta de um ad-blocker. Tentei o Pith Helmet e o SafariBlock, mas o browser ficou instável e comecei a experimentar crashes ocasionais. Pra piorar, o Gmail se recusava a permitir o Google Talk a funcionar no Safari. Outro irritante era o fato de que para abrir links que normalmente abririam outra janela em uma tab, eu tinha de apertar command (apple) - no firefox há uma configuração para isso.

Como tenho de ter o Firefox instalado por causa da infinidade de plugins para web developers, passei a só usar o Firefox e fim de história.

Mas o Safari melhorou muito nas últimas versões. A ferramenta de busca em página é um espanto de útil, colocando uma película transparente sobre tudo menos o termo buscado; o menu de desenvolvedor, habilitável na página avançada das preferências do Safari, é útil - inclusive me permitindo abrir uma página em outro browser, criar pequenos trechos de HTML no snippet editor, mudar a user-agent string, etc.

Fazer o safari abrir uma link em outra tab sem ter de apertar outras teclas é controlável através de um comando defaults:
defaults write com.apple.Safari TargetedClicksCreateTabs -bool true
E eu descobri, via Pimp My Safari, o Safari AdBlock, que nos meus testes não afeta a estabilidade do browser e cumpre sua missão de bloquear as dezenas de propagandas embutidas em páginas. 

O Safari é também, ao que parece, um pouco mais rápido que o Firefox.

7 de outubro de 2008

Sobre a crise financeira internacional...

Stephen Colbert, sobre a crise financeira internacional:

Turns out every language contains the word: ARRRRRRRRRRRRGGHHHHHH!
Tradução:
Ao que parece todas as línguas contém a palavra: ARRRRRRRRRRRRGGHHHHHH!